DESASTRE AÉREO NA UCRÂNIA

A Europa tem de reagir

Publicado em 22 Julho 2014 às 20:45

“Com pelo menos 192 cidadãos entre os 298 desaparecidos no atentado contra o voo MH17 da Malaysia Airlines na Ucrânia, a Holanda foi fortemente atingida pela tragédia”, escreveu Stefan De Vries no seu blogue (também é possível encontrar o artigo no Courrier international), onde compara a catástrofe a um “11 de Setembro” holandês.

Para o correspondente do canal holandês RTL Nieuws em Paris, o motivo é simples:

Os holandeses são um povo que viaja muito, independentemente das suas origens. O que explica a diversidade social dos passageiros do voo MH17. Entre as vítimas estavam: um advogado, que também treinava um clube de futebol local, a sua esposa e os seus três filhos, uma estudante de medicina, uma florista, um casal de restauradores, um DJ, um soldado, um senador, famílias inteiras, investigadores de renome que dedicaram a sua vida a procurar uma cura para a SIDA, e 80 crianças. Uma radiografia da população holandesa sordidamente resumida numa lista de vítimas.

Mas o acidente também revela inúmeras coisas sobre a atitude dos europeus face à guerra que decorre nas suas fronteiras de leste, e que indigna uma grande parte da imprensa europeia, como o realça De Vries,

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Este desastre aéreo, pelo qual os rebeldes pró-russos serão responsáveis, revela brutalmente a extrema fraqueza da política estrangeira da União Europeia. O conflito na Ucrânia já dura há quase um ano às portas da UE. Todos estes meses não foram suficientes para os líderes europeus encontrarem uma solução. Nenhum Estado-membro quer ofender a Rússia e correr o risco de contrariar o presidente Vladimir Putin. Cada um tem os seus interesses: a Alemanha quer evitar que um boicote da Rússia prejudique a sua indústria, a França não pensa sequer em anular a entrega de dois navios de guerra e a Holanda, que é um dos maiores investidores na Rússia, faz tudo para manter boas relações com o presidente russo e o seu executivo. Com sucesso: a filha de Putin vive num subúrbio agradável de Haia.

Na Holanda, sublinha ainda, o choque provocado pelo desastre aéreo do MH17

tem a mesma amplitude que o 11 de setembro. Proporcionalmente à sua população, o país perdeu mais cidadãos na catástrofe que os Estados Unidos nos atentados de 2001. Na declaração que fez na sexta-feira [18 de julho], Obama pareceu compreender este impacto devastador. O presidente falou de uma “chamada de atenção” para a Europa. Os europeus estão agora envolvidos numa guerra que preferiram ignorar durante demasiado tempo ou com a qual se acomodaram. Está na hora de acordarem e de pararem de se comportar como oportunistas. É necessária uma resposta coerente, firme e unida para esclarecer as circunstâncias deste ato de guerra e para levar os responsáveis perante um tribunal, de preferência internacional. Já chega de uma Realpolitik cínica, é preciso agora mostrar coragem política. Devemo-lo às 298 vítimas.

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