Estas eleições parecem decorrer sem nenhum desafio em concreto. No entanto, os resultados podem colocar inúmeros reptos, especialmente em matéria de imprevisibilidade da política externa checa.
De acordo com as sondagens, os social-democratas (ČSSD) não terão opção e vão ter de celebrar alianças, quer com os partidos cujas ideias sobre o que deve ser política externa do país põe em causa a participação no espaço transatlântico, quer com partidos que exploram a política externa para fins populistas.
No primeiro lote, temos o Partido Comunista da Boémia e Morávia (KSČM), que exige a saída da República Checa da NATO. Na segunda, o ANO [“Sim”, em checo, movimento político do multimilionário checoslovaco Andrej Babiš], o Alvorada da Democracia Direta [movimento populista do checo-nipónico Tomio Okamura] e o SPOZ [Partido dos Direitos Civis, do Presidente Miloš Zeman], que, em matéria de negócios estrangeiros, manifestam a intenção de tomar decisões sem uma orientação ideológica clara, guiando-se fundamentalmente pelos estados anímicos da opinião pública ou em função do seu próprio estado de espírito a cada momento.
A política externa prima pela ausência, no programa do Alvorada. O ANO apresenta um belo capítulo sobre o assunto e conta nas suas fileiras com Pavel Telička, que foi comissário europeu [de maio a outubro de 2004] e o principal negociador da adesão da República Checa à União Europeia. Mas o experiente empresário Babiš, que é mestre em negócios, exige que os produtos adquiridos sejam funcionais, ou seja dóceis. E o mesmo vale para Telička. O desagrado pela Polónia [Babiš é um crítico da qualidade dos alimentos provenientes da Polónia] pode descambar numa tentativa rancorosa de confronto com Varsóvia, num palco mais amplo, como é o europeu.
Continuidade da política
Esta perspetiva é preocupante para a República Checa, porque pode atirá-la para situações que exijam ao Governo e ao Parlamento a confirmação do compromisso nacional com a NATO, ou mesmo diretamente ao nível do eixo Praga-Washington. O mesmo se passa com a instável União Europeia, constantemente confrontada com as dificuldades da zona euro e com os esforços para preservar a sua integridade, recentemente posta à prova pela Grã-Bretanha. Ou seja, as relações exteriores da UE irão ter de testar constantemente as posições e a política da República Checa.
[[Qual vai ser a posição do próximo Governo e do Ministério dos Negócios Estrangeiros em relação à Parceria Oriental, e que relações manterá com Praga e Moscovo]]? Qual vai ser o nível de comprometimento da República Checa na política de vizinhança da União Europeia, por exemplo, com o Norte da África? Em relação a Bruxelas e Washington, na questão da revelações sobre atividades de espionagem dos Estados Unidos, que posição deve adotar a União Europeia? Colocam-se imensas dúvidas, cujas respostas supõem uma unidade e continuidade da política checa, se Praga não quiser fazer figura de parceiro imprevisível.
A vitória do ČSSD não é nada invejável. Algumas forças políticas que agora têm oportunidade de entrar para o Parlamento podem vir a ter um impacto verdadeiramente destrutivo (KSČM, Alvorada da Democracia Direta), outros poderão apoiar e negociar o seu apoio ao governo (ANO, SPOZ). E para algumas decisões (como o envio de tropas checas em missões da NATO), é de esperar que o ČSSD conte com o apoio da direita parlamentar (os conservadores do partido TOP 09 e os Liberais do ODS). Porque, apesar de ser um opositor confiável em matéria de política interna, pode-se contar muito mais com eles em política de negócios estrangeiros do que com todos os extraterrestres políticos, esses objetos políticos não identificados.
Eleições
É necessário renovar
“Qual deles o conseguirá fazer?”, interroga-se o Mladá Fronta Dnes por baixo da fotografia dos dez líderes dos partidos que solicitam o voto dos checos nos dias 25 e 26 de outubro. O diário, que recolheu as expectativas de cerca de vinte personalidades do mundo cultural, social e intelectual, constata a necessidade de reavivar “a moral no seio da classe política, de cumprir os princípios da democracia parlamentar e de seguir uma visão que supere o período do mandato”.
“Hoje, às 14h, começa um dos escrutínios mais importantes desde a queda do comunismo” em 1989, realça por sua vez o Lidové noviny. O diário recorda
o perigo real da chegada dos comunistas ao poder, porque o cenário pós-eleitoral mais provável continua a ser o de um Governo minoritário dirigido por sociais-democratas apoiados por comunistas.