Ideias “Je suis Charlie”
"Unidos contra o terror"

Estará a Europa à altura da mobilização?

Na “marcha republicana” que reuniu cerca de 4 milhões de pessoas em França e várias dezenas de milhares no resto da Europa após os atentados de Paris, os manifestantes recordaram que a liberdade e a democracia não são negociáveis e que são mais fortes do que o ódio e o fanatismo. Cabe agora à Europa enfrentar tal desafio.

Publicado em 12 Janeiro 2015 às 14:07
"Unidos contra o terror"

O que ocorreu ontem foi um acontecimento sem precedentes. E, esperemos, um ato fundador para a Europa e a França. Os líderes dos países europeus marcharam ao lado de François Hollande e do seu predecessor, Nicolas Sarkozy, mostrando a sua solidariedade para com a França após estes atos terroristas. Também estiveram presentes outros chefes de Estado, entre eles o de Israel e o da Palestina, e os responsáveis de instituições europeias, plenamente representadas.
A Europa, frequentemente criticada por não passar de um grande mercado, demonstrou ser mais do que isso. Que deveria ser muito mais do que isso. Perante a barbárie terrorista, recordou-se subitamente das suas origens.
Se o projeto europeu foi lançado há sessenta anos, foi para assegurar a paz e a democracia. [[Hoje, num momento em que a sua prosperidade é abalada, a Europa deve enfrentar novos desafios.]] Como destacou Matteo Renzi, a Europa tem uma moeda, mas precisará de novos instrumentos comuns para garantir a sua segurança (serviços secretos, defesa...), quer às suas portas (Ucrânia, Síria, Líbia…) ou dentro delas. Não há dúvida de que precisaremos de mais Europa, e não menos, e de que não será fácil… Da mesma forma, precisaremos que todos os países ontem representados mostrem a sua determinação onde o terrorismo está enraizado, os mesmos que deixaram a Síria ao abandono.
O ato pode ser fundador, ou melhor, refundador, para uma França cheia de dúvidas e divisões, enredada numa crise sem fim. Uma vez mais, é face ao terror e ao horror que os franceses se recordam dos valores sobre os quais o país foi construído. O impacto internacional desta incrível série de assassinatos surpreendeu o Hexágono. No país das luzes, a execução dos ilustradores do Charlie Hebdo ganha outro relevo, tal como os ataques antissemitas que se seguiram.
Quando Angela Merkel, que vê a Alemanha dividir-se sobre a imigração, se diz impressionada pela reação do povo francês, isto não são meras palavras. Este apoio mundial excecional obriga a França a estar à altura do que simboliza: uma república onde as pessoas de todas as religiões e de todas as origens formam uma nação pluralista, laica, rejeitando o racismo e o fanatismo. No entanto, alcançar isto vai ser um enorme desafio.
No dia seguinte a um fim de semana regenerador, o despertar não será fácil. As polémicas reaparecerão. O Governo, os políticos de todos os quadrantes e os responsáveis religiosos devem estar à altura das expetativas. A prioridade da segurança deve levar a soluções eficazes e à rejeição das propostas demagógicas que não tardarão a aparecer. A esquerda deverá demonstrar o seu pragmatismo e banir todo o tipo de ingenuidade. A direita deverá ser uma força de oposição construtiva, impermeável aos excessos extremistas. Objetivos irrealizáveis? Circunstâncias excecionais exigem respostas excecionais.

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