Ideias Ascensão da extrema-direita na França

Lições para a Europa

O sucesso do partido Frente Nacional de Marine Le Pen na primeira volta das eleições regionais do dia 6 de dezembro é o último episódio de um fenómeno que afeta todo o continente. Este exige uma resposta solidária dos movimentos democráticos, se quisermos evitar a desintegração da União, adverte Bernard Guetta.

Publicado em 8 Dezembro 2015 às 20:23

O resultado das eleições regionais francesas não é apenas francês. É europeu, pois não é só em França que uma nova extrema-direita encontrou o seu lugar na cena política, onde está agora em pé de igualdade com esquerdas e direitas que dominavam até agora.

Além de existirem partidos como o Frente Nacional em quase todos os países da UE, todos se têm vindo a desenvolver, ao mesmo ritmo ou quase, neste mesmo quarto de século que nos separa do colapso da União Soviética e pelas mesmas razões.

Em vinte e cinco anos, saímos de um equilíbrio do terror que garantia uma estabilidade que, afinal de contas, era tranquilizadora. Vimos surgir novas potências, cuja ascensão subitamente derrubou cinco séculos de predomínio ocidental e sempre presenciamos mais os conflitos sangrentos de um Islão que procura o seu caminho depois de oito séculos de decadência.

Ainda em curso, essas três mudanças têm alimentado medos que não param de crescer. Num mundo considerado perigoso, os europeus já não se sentem protegidos pois não têm defesa e o guarda-chuva americano está a fechar-se. Os trabalhadores europeus veem ruir uma proteção social sem qualquer garantia de sustentabilidade, uma vez que o capital já não está disposto a fazer as mesmas concessões ao trabalho que no tempo do comunismo e a transformação dos países emergentes em fábricas mundiais exerce uma pressão tremenda sobre os salários, desindustrializando a Europa.

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Assim, há uma lógica por trás do sucesso da extrema-direita que se apresenta como defensora dos benefícios adquiridos anteriormente e defende o encerramento das fronteiras e o fim do comércio livre. Tal como no início do fascismo italiano e nacional-socialismo alemão, o nacionalismo e a angústia social misturam-se nos coquetéis mais explosivos e o regresso do nacionalismo em si é alimentado por uma dupla rejeição, a do Islão, considerada mortal a nível mundial, e a da união europeia, cada vez mais rejeitada como um cavalo de Troia da globalização e como destruidora dos Estados nos quais foram negociados os compromissos sociais do pós-guerra.

Se nada vier contrariá-las, estas novas forças levarão a Europa a um desastre económico, pois o recurso ao protecionismo acabaria com as exportações europeias, enquanto um regresso às moedas nacionais mergulharia os países da União numa competição monetária suicida. As dificuldades sociais não se reduziriam, pelo contrário, multiplicar-se-iam e, em paralelo, a rejeição dos muçulmanos enquanto muçulmanos provocaria rapidamente distúrbios à escala nacional e internacional.

Os países europeus não podem deixar-se paralisar pela sua extrema-direita. Existe um risco que é necessário evitar e tal não poderá ser feito a não ser que a esquerda e a direita denunciem verdadeiramente, e frontalmente, a loucura destes programas e se unam – não no sentido de fundir-se, mas unir-se – em oposição à maioria dos compromissos que possam e sempre que necessário, e que dois terços dos europeus o desejassem.

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