Alemanha e a crise de refugiados

Merkel todo-poderosa debaixo de fogo

A chanceler alemã é a mulher mais poderosa da Terra, no entanto, enfrenta resistência às suas políticas de refugiados por parte de muitos dos seus parceiros da UE e aliados políticos a nível nacional.

Publicado em 10 Novembro 2015 às 09:45

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Apesar de recentemente ter sido premiada como a segunda pessoa mais poderosa da Terra pela Forbes, a chanceler alemã Angela Merkel parece cada vez mais vulnerável devido ao desagrado provocado pelas suas políticas de refugiados, estima uma equipa de escritores do Der Spiegel. O fluxo contínuo de refugiados para o sudeste do país deixou as organizações de ajuda e os órgãos municipais sob uma tensão sem precedentes. Entretanto, os oponentes políticos e os aliados semelhantes estão a fazer campanha para que seja imposto um limite no número de refugiados com entrada permitida na Alemanha, uma ação que colocaria um fim à visão de Merkel para uma Europa sem fronteiras.

Os escritores do Der Spiegel dizem que a situação descambou, numa altura em que os municípios, privados de recursos, têm dificuldade em acompanhar o crescente número de imigrantes. Os especialistas contam com entre 10 e 12 mil novos refugiados por dia, quando virtualmente já não existem mais abrigos disponíveis em qualquer parte do país. “Resumindo, o Governo perdeu o controlo”, declaram os autores. “A Alemanha encontra-se em estado de emergência.” Entretanto, os apoiantes conservadores tradicionais do partido de Merkel, o CDU, estão cada vez mais preocupados com a possibilidade de as novas chegadas darem origem a uma “sociedade paralela de muçulmanos no país”.

Tudo isto teve um efeito dramático no índice de aprovação de Merkel, com sérias repercussões para o CDU. Mas, mais preocupante do que isso, é o facto do Alternativa para a Alemanha (AfD), um partido de extrema-direita, ter sido quem mais beneficiou nesta mudança de humor nacional, tendo obtido 8% numa recente sondagem de opinião. Durante o verão, Merkel parecia intocável. Agora, estimam os comentadores, esta poderá enfrentar um golpe dentro do seu próprio partido. Merkel está bem ciente dos perigos da sua posição:

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Uma das maiores virtudes de Merkel é o seu sentido infalível para a realidade política. [...] Ninguém melhor do que a chanceler alemã sabe o quão precária a situação no país se tornou.

No centro da crise está a relação atribulada de Merkel e Horst Seehofer, o líder do partido irmão do CDU na Baviera, o CSU. Embora Seehofer se oponha fortemente às medidas drásticas para limitar o número de imigrantes propostas pelo AfD, este defende um limite no número de pessoas que o país pode receber. A situação na Baviera é, segundo os autores, “pré-revolucionária”, com uma revolta crescente no partido relativamente às ações do Governo federal. Além disso, verificou-se que nada foi feito para apoiar as comunidades locais, que em fevereiro recorreram ao Governo em busca de assistência devido à chegada dos refugiados. O Serviço Federal de Migração e Refugiados também se revelou despreparado para a escala da crise, depois de ter sido negada permissão para a contratação de pessoal adicional para o processamento de pedidos de asilo.

Merkel também se encontra vulnerável na cena internacional. Outrora chamada “rainha da Europa”, hoje enfrenta resistência às suas políticas de refugiados por parte de muitos dos seus parceiros da UE, alguns dos quais exigem mais barreiras e um limite para a livre circulação de pessoas. A chanceler teve de se virar para os seus “antigos oponentes” na Grécia e na Turquia para gerir o fluxo de refugiados. Os riscos são elevados: o sucesso da política internacional de Merkel irá determinar não só a sua posição a nível nacional, mas também o futuro da própria UE.

Merkel acha que é impossível para a Alemanha encerrar as suas fronteiras. Para ela, a instalação de uma vedação não só seria ineficaz, mas também representaria o fim do ideal europeu. Tendo crescido na Alemanha Oriental comunista, a chanceler pertence a um país que se dividiu com muros e arame farpado, uma experiência que não quer reviver.

Cet article est publié en partenariat avec #OpenEurope

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