Manifestantes palestinianos sobem o muro de separação de Israel, perto do colonato judaico de Hashmonaim na Cisjordânia.

O congelamento do financiamento aquece o debate sobre a paz

A decisão da União Europeia de interromper o seu financiamento às instituições israelitas nos territórios ocupados durante a guerra de 1967 é absurda, não reconhece a complexidade da política atual e não ajudará a instaurar a paz, segundo um editorial do “Jerusalem Post”.

Publicado em 19 Julho 2013 às 15:23
Manifestantes palestinianos sobem o muro de separação de Israel, perto do colonato judaico de Hashmonaim na Cisjordânia.

O que pode ter passado na cabeça da União Europeia quando decidiu emitir orientações que, se postas em prática, iriam suspender todas as suas doações, prémios e “instrumentos financeiros” para os centros de pesquisa e desenvolvimento, empresas de alta tecnologia, instituições académicas e outras empresas e instituições instaladas para lá da linha do Armistício de 1949?

Apesar de ter tentado apresentar a iniciativa como não fazendo mais do que “colocar por escrito as regras do jogo”, como um quadro apresentou a questão, a União tinha de saber as consequências de colocar em prática posições sem contacto com as realidades no terreno.

Como salientou o correspondente para assuntos diplomáticos, Herb Keinon, do Jerusalem Post, o documento que inclui as novas diretivas “não dá nenhuma abertura para a penalização de instituições israelitas no interior das linhas anteriores a 1967, com atividades comerciais para além da Linha Verde: o que faz é criar um grande fosso”.

Não só passará, doravante, a negar financiamento e cooperação a instituições israelitas instaladas ou a operar para lá da linha do Armistício de 1949, como os europeus vão exigir que todos os futuros acordos entre Israel e a União Europeia incluam uma cláusula que estipula que Israel aceita a posição da UE de que todos os territórios para lá da Linha Verde não pertencem a Israel.

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Absurdo da posição europeia

Locais da cidade velha de Jerusalém, como o Muro das Lamentações, o local mais sagrado do judaísmo, teriam que ser reconhecidos como não pertencendo a Israel. Existem até declarações palestinianas reconhecendo que muitos bairros judeus construídos depois de 1967, em Jerusalém, vieram para ficar.

O absurdo da posição europeia e a sua total incapacidade em fazer distinções com base na demografia e significado religioso são tornados ainda mais insustentáveis com a inclusão dos Montes Golã como território ilegalmente “ocupado” por Israel.

Manifestamente, os europeus estão conscientes do turbilhão da crise que assola a Síria e do facto de não haver nenhum governo responsável a quem devolver os Montes Golã. Perante a anarquia na Síria, porque hão de os europeus acreditar que Israel deve ser punido com um boicote pela sua contenção e pela manutenção da ordem em territórios que caíram nas mãos dos israelitas quando se defendia de uma ofensiva dos exércitos combinados da Jordânia, Egito e Síria?

A situação não é muito diferente na Cisjordânia. A quem deveria Israel “devolver” a Cisjordânia? A liderança palestiniana está dividida entre o Hamas, que aspira destruir Israel, mesmo dentro das linhas pré-1967, e a Autoridade Palestiniana, controlada pela Fatah, que carece de legitimidade democrática (as eleições presidenciais deviam ter sido realizadas em 2009), recusa-se a entrar em negociações diretas sem condições prévias, e continua a incluir dentro da Linha Verde cidades como Jaffa e Acre.

Pressão da população muçulmana

Os palestinianos têm uma pesada responsabilidade pelo impasse nas negociações para a criação de uma solução de dois Estados. E a julgar pelo tratamento da Autoridade Palestiniana aos jornalistas palestinianos, a violência das suas atitudes de asfixia da dissidência e a sua corrupção, é duvidoso que um Estado palestiniano viesse a proteger os direitos humanos básicos. No mínimo, a União Europeia deveria abster-se de movimentações unilaterais, antes de fazer o reconhecimento da complexidade das questões.

Apesar de uma vontade renovada, tanto de Israel como dos palestinianos, para se sentarem e conversarem, a que se soma o apoio entusiástico da Liga Árabe, a pressão da União Europeia sobre Israel não vai ajudar as negociações de paz.

Percebemos que os políticos em muitos países europeus estão sob pressão de uma população muçulmana em rápido crescimento e cada vez mais interveniente e radicalizada, bem como de outros grupos antissionistas, que exigem uma tomada de posição mais forte contra Israel. Mas, se a intransigência palestiniana for recompensada com mais pressão europeia sobre Israel, isso vai incentivar ainda mais intransigência.

Para quê entrar em negociações e fazer concessões dolorosas, se a pressão internacional permanece focada exclusivamente em Israel? O Presidente Shimon Peres, um veterano em negociações de paz, tem plena consciência da natureza potencialmente contraproducente das sanções da União Europeia: “Não lancem sanções irresponsáveis, que irão prejudicar o processo de paz”, alertou. “As questões são complexas e sensíveis: adiem a vossa decisão. Façam da paz a prioridade e deem-lhe uma oportunidade; a vossa decisão pode levar a uma crise na nossa região.” Palavras sábias.

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