Grécia e a austeridade

Os frágeis revolucionários de Atenas

Numa altura em que o primeiro-ministro Alexis Tsipras continua em busca do apoio dos seus colegas europeus, a imprensa polaca tenta desvendar a sua estratégia e pesar as suas possibilidades de convencer Angela Merkel a aliviar a pressão que se faz exercer devido à austeridade.

Publicado em 10 Fevereiro 2015 às 12:56

Embora tenha chamado Ernesto ao seu filho mais novo e, recentemente, tenha pendurado um cartaz de Che Guevara na parede do seu escritório, Alexis Tsipras não está disposto a alimentar a chama da revolução, revela o Newsweek Polska. Não é um “ideólogo cego, mas um excelente estratega que adora jogos políticos”, acrescenta o semanário, realçando que o novo líder grego preencheu de forma habilidosa o vazio criado pelo colapso do sistema bipartidário de longa duração na Grécia. Tal como explica o histórico e sociólogo grego Iannis Carras,

o seu principal trunfo é o facto de muitos gregos o verem como um político que se ergueu e defendeu o país. É por isso que Tsipras vai continuar a usar a retórica patriota e nacionalista partilhada pelos partidos gregos de direita e de esquerda.

Contudo, Tsipras não conseguirá cumprir as “promessas irrealistas que fez durante a campanha eleitoral”, mesmo que tenha começado a desmantelar algumas das reformas do seu predecessor, ao suspender o processo de privatização do porto de Pireu e do fornecedor de energia DEI, bem como ao aumentar o salário mínimo e planear a reintegração de alguns funcionários do setor público que tinham sido despedidos. Os especialistas estimam que o custo das promessas de Tsipras ascenda aos 10 mil milhões de dólares, dinheiro que a Grécia não tem.

É por esse motivo que, defende o Gazeta Wyborcza, o novo ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, apresentou um plano de recuperação crucial para a sobrevivência do Governo baseado em quatro pontos. Este implica uma ligação dos juros da dívida pública ao crescimento do PIB, a continuação de reformas mas “a laser e não à faca”, o estímulo do investimento por parte do Banco Europeu de Investimento, não apenas na Grécia mas em toda a Europa e, finalmente, a criação de um novo programa de assistência social na zona euro.

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Os fatores chave do plano dependem do consentimento dos seus parceiros europeus e de Bruxelas, motivo pelo qual Tsipras e Varoufakis têm percorrido de forma incansável o continente em busca de apoio e de aliados. Quando questionado sobre o que aconteceria se os líderes europeus e a Comissão rejeitassem as suas propostas, Varoufakis admitiu que, nesse caso, “a morte seria melhor”.

Não admira, portanto, que Tsipras tenha suavizado a sua retórica revolucionária antes do confronto final com a chanceler alemã. No entanto, o Newsweek Polska realça que Angela Merkel parece atualmente menos disposta a ceder do que em 2012, quando temia que o colapso da Grécia pudesse resultar no desmoronamento da zona euro.

Atualmente, a chanceler alemã está mais inclinada para aceitar a teoria do elo mais fraco, isto é, livrar-se do fardo do membro mais fraco pode ajudar a zona euro. As negociações entre Atenas e Berlim serão extremamente difíceis. Um dos jornalistas alemães disse-o sem rodeios: “Merkel livrou-se de todos os seus inimigos internos e externos, a começar por Helmut Kohl. Facilmente se livrará de Tsipras”.

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