A crise dos refugiados vista da Roménia

“Os imigrantes não são semelhantes aos que fugiram ao comunismo”

Publicado em 15 Setembro 2015 às 17:35

Tal na maioria dos países europeus, na Roménia a opinião pública está dividida quanto ao acolhimento de refugiados oriundos do Médio Oriente. O debate incide muitas vezes sobre a comparação entre os romenos que fugiram ao comunismo ou os que abandonaram o país após a queda do regime de Nicolae Ceaușescu, em 1989, e os imigrantes atuais.
Segundo o politólogo Sorin Bocancea, a comparação não é no entanto correta, pois nos primeiros casos, tratava-se sobretudo de pessoas que partiam para a Europa individualmente e não em massa, como é o caso dos refugiados atuais. Nas colunas do Adevărul, Bocancea realça que, na verdade, estes não procuram a paz, mas melhores condições de vida:

Um refugiado procura o local mais próximo onde encontrará paz. Por que é que neste caso, os atuais imigrantes não param no primeiro país em paz? A paz da Alemanha é melhor do que a da Turquia? […] Paz é paz, não importa o local. As condições de vida, essas sim, são diferentes. No entanto, estes alegam que não são imigrantes económicos, mas sim refugiados, apesar de os refugiados procurarem a paz e não tesouros.
Além disso, explica Bocancea, os emigrantes romenos não se organizam em grupos que exprimem reivindicações e são facilmente “integráveis” nos países de acolhimento:
Os emigrantes romenos não exigiam chegar a um certo país, como é afirmado hoje em dia nas gares, queriam apenas ir para um país democrático. […] Os romenos que emigraram após 1989 não forçaram as barreiras de arame farpado, esperaram por autorizações de trabalho.
Reconhecendo o impacto devastador das imagens de crianças afogadas, o politólogo conclui realçando que não nos podemos esquecer dos respetivos pais:
Que proteção oferecem estes últimos aos seus filhos, ao percorrer milhares de quilómetros de distância para deixar o primeiro país onde existe paz? Que proteção oferece um imigrante que coloca o filho a bordo de um barco sobrecarregado ou que o coloca nas vias férreas para exercer pressão sobre as autoridades? Por que é que os humanistas radicais não denunciam a irresponsabilidade dessas pessoas? Os imigrantes também podem ser irresponsáveis.
Por sua vez, a jovem escritora e bloguista Daniela Raţiu sublinha no mesmo jornal que está na hora de enfrentar tudo aquilo que se pensou até agora que não dizia respeito aos romenos:
A Europa confronta-se com a forma como se definiu, como construímos as nossas sociedades, como gostamos de nos imaginar, como queremos ser vistos como detentores de uma civilização… […] As imagens que estão constantemente a passar nas televisões do mundo transmitem algo bíblico. A Europa perdeu a sua empatia, isolou-se nas suas fronteiras, com os seus carros de luxo, as suas autoestradas, as suas instituições com nomes pomposos, com a sua vida sempre melhor, a crédito, mas agradável, apesar da crise económica. O novo contexto dos refugiados parece ser o último dos seus problemas. Esta rutura refletiu-se ainda mais com a desproporção entre a emoção transmitida após os atentados contra o Charlie Hebdo e a ausência total de emoção e de reação pública, política e até mesmo militar após atentados que ocorreram não numa região civilizada como a Europa, mas noutro lugar, onde mulheres e crianças morreram e refugiados infelizes se afogaram. Quando isso aconteceu, os europeus não se mexeram, continuaram a jantar em restaurantes requintados ou a passar férias em destinos solarengos. Para as vítimas dos atentados que ocorreram fora da Europa, ninguém saiu às ruas. Porque a Europa se tornou egoísta, porque apenas nós somos pessoas, enquanto os restantes não passam de abstrações.

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