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Durante a apresentação do logótipo da presidência lituana da UE, a 12 de junho, em Vilnius.

Poderá a Lituânia fomentar a confiança na Europa?

Esta terça-feira, 1 de julho, a Lituânia assume a presidência da UE pelos próximos seis meses. Um mandato que se inicia num clima de desconfiança em relação à União – o que não facilitará a tarefa de Vilnius.

Publicado em 1 Julho 2013 às 14:47
 | Durante a apresentação do logótipo da presidência lituana da UE, a 12 de junho, em Vilnius.

O instituto norte-americano Pew Research Center realizou recentemente um estudo sobre a confiança na União Europeia. Quais foram as conclusões? Cerca de 45% dos cidadãos interrogados nos oito países onde o inquérito foi conduzido apoiam a UE. Há um ano, esse indicador era de 60%. Foi em França que o clima mostrou ser mais pesado: num ano, a percentagem de eurocéticos aumentou 18% e 58% dos franceses dizem que, presentemente, não têm confiança na Europa. Os nossos vizinhos polacos salvam, em parte, a situação: 69% apoiam a UE. Na vizinha República Checa, passa-se o contrário.

“Uma das principais razões da deceção com a UE pode ser explicada pela situação económica precária, em especial nos países da zona euro, porque é nesses países que os cidadãos estabelecem sem dúvida a ligação entre a precariedade, a moeda única e as decisões tomadas pela UE para a salvar”, explica o diretor do Instituto de Relações Internacionais e Ciências Políticas de Vilnius (TSPMI), Ramunas Vilpisauskas. “Em alguns países, por exemplo na Lituânia, as pessoas têm menos confiança nas instituições nacionais do que nas da UE. No entanto, são muitos os países onde a confiança nas instituições, tanto nacionais como europeias, está em queda livre, sendo a Grécia um exemplo extremo. As pessoas já expressaram a sua deceção, por ocasião de escrutínios nacionais, mas esta poderá também manifestar-se nas eleições do próximo ano para o Parlamento Europeu”, adianta Vilpisauskas.

Polacos escapam, franceses indignam-se

Os especialistas consideram igualmente que a posição das elites nacionais em relação à UE é um elemento a ter em conta. Para Kęstutis Girnius, os exemplos polaco e checo mostram que a elite no poder desempenha um papel considerável. “Na Polónia, os dirigentes sempre apoiaram a UE e, hoje, o país aspira a ter um papel importante na comunidade, enquanto, na minha opinião, e se isso fosse da sua competência, o antigo Presidente checo, Vaclav Klaus teria preferido empurrar a República Checa para fora da UE. Em Praga, o Partido Comunista continua a ter influência e sabe-se que os socialistas encaram a UE com reservas”, explica este professor de ciências políticas.

“É preciso recordar o discurso de Radoslaw Sikorski [ministro dos Negócios Estrangeiros polaco] em Berlim [em 28 de novembro de 2011], no qual este incitava a Alemanha a resolver de uma maneira mais ativa a crise da zona euro e a conduzir a UE para uma maior integração. Essa posição do poder polaco pode ser aceite de maneira favorável pela maioria dos cidadãos do país. É preciso ainda relembrar que a economia polaca não registou uma recessão durante a crise, o que pode também influenciar a opinião dos cidadãos”, observa Ramunas Vilpisauskas.

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No que lhes diz respeito, os franceses estão indignados, designadamente, pela nova distribuição do equilíbrio no interior da UE. “Antes da crise, a França desempenhava um papel importante na Europa. Por assim dizer, havia um acordo informal entre a França e a Alemanha, segundo o qual esta última era o motor da economia. Por seu turno, a França podia tomar decisões políticas importantes e numerosas. Mas as coisas deixaram de ser assim. Mesmo quando as rédeas ainda eram detidas por Merkozy (Angela Merkel e Nicolas Sarkozy), esse equilíbrio começou a mudar e os franceses não gostam disso”, explica Kęstutis Girnius.

Convém não levar as coisas demasiado longe

E quanto à Lituânia? Se fosse realizado no nosso país um estudo idêntico ao do Pew Research Center, os lituanos mostrar-se-iam mais próximos dos polacos ou dos checos?

Ramunas Vilpisauskas sublinha que, para já, os lituanos têm confiança na UE, ainda que seja preciso não generalizar essa tendência. “Por exemplo, o número bastante significativo de pessoas que não aprovam a introdução do euro, em comparação com o número de pessoas que lhe são favoráveis, prova o ceticismo dos lituanos quanto a uma integração mais profunda, pelo menos neste domínio. Isso deve-se provavelmente à subida dos preços, à redução do poder de compra e à insegurança que subsistem na zona euro”, sublinha o diretor do TSPMI.

Embora a população local apoie a UE, será difícil melhorar a imagem da União, durante a presidência lituana. “Os pequenos Estados têm dificuldade em se ocupar da imagem da UE, sobretudo por falta de recursos”, considera Kęstutis Girnius.

Ramunas Vilpisauskas acrescenta que os responsáveis pela política externa da Lituânia deveriam preocupar-se em primeiro lugar com os cidadãos do país, para depois não ficarem sob o fogo das críticas da sociedade, por terem levado as coisas demasiado longe durante a presidência.

As críticas já chovem, por causa das obras intensivas nas ruas, como se estivesse a ser feito um esforço para brilhar perante a UE e por ocultar uma situação precária. A presidência do Conselho Europeu pela Lituânia pode melhorar o grau de informação dos cidadãos sobre os assuntos europeus. Irá isso contribuir, ou não, para uma imagem positiva da UE? É difícil fazer previsões…

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