Referendo na Grécia

Prémio Nobel Joseph Stiglitz apela ao “não” ao plano de resgate

Publicado em 3 Julho 2015 às 09:13

O referendo deste fim de semana permite aos eleitores gregos eleger entre dois futuros totalmente diferentes, escreve Joseph Stiglitz no Project Syndicate. A aprovação das condições da Troika significará “uma depressão quase sem fim” para o país, enquanto a rejeição deixa aberta a possibilidade de um resultado “muito mais otimista”, mesmo que a Grécia nunca volte a recuperar a sua antiga prosperidade.

Stiglitz observa que, no que diz respeito à redução de um défice primário, “poucos países alcançaram algo parecido ao que os gregos alcançaram nos últimos cinco anos”. Mas isto teve um custo humano inaceitavelmente elevado: até agora, as medidas de austeridade foram responsáveis por uma queda de 25% do PIB da Grécia e por uma taxa de desemprego juvenil de 60%. O facto de a Troika exigir mais cortes é um sinal de que as motivações ideológicas superaram as considerações financeiras.

As exigências da Troika à Grécia, defende Stiglitz, baseiam-se numa economia “abismal”. Pretende um excedente orçamental primário (incluindo o pagamento de juros) de 3,5% do PIB até 2018. “Economistas do mundo inteiro consideraram esse objetivo como punitivo”, escreve ele, “pois alcançá-lo traduzir-se-á inevitavelmente numa recessão mais profunda”. A posição atual da Troika tem mais a ver com a ideologia do que com o dinheiro: a Grécia deve ser forçada a aceitar não só a austeridade, como também o castigo.

Stiglitz, prémio Nobel da Economia, chama a atenção para os verdadeiros beneficiários da série de resgates até agora efetuados à Grécia:

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Temos de ser claros: quase nenhuma da grande quantidade de dinheiro emprestada à Grécia foi realmente para lá. Foi para pagar aos credores do setor privado, incluindo aos bancos alemães e franceses. A Grécia não obteve nada a não ser miséria, mas pagou um preço muito elevado para preservar os sistemas bancários daqueles países. O FMI e os outros credores “oficiais” não precisam do dinheiro que está a ser exigido. Num cenário puramente económico, o mais provável é que o dinheiro recebido seja novamente emprestado à Grécia.

Mas é para a zona euro que Stiglitz reserva uma crítica particularmente forte. Este afirma que os representantes da zona euro estão a tentar forçar um Governo democraticamente eleito a ir contra os desejos dos seis eleitores. A zona euro, que é para Stiglitz a “antítese da democracia”, acredita que pode fazer cair o Governo do Syriza “ao intimidá-lo a aceitar um acordo que contraria o seu mandato”. Dada a dureza destas condições de resgate, para Stiglitz só há uma opção viável: os gregos devem colocar a democracia em primeiro lugar, rejeitando as condições da Troika. Ainda que o resultado continue a ser incerto, um voto a favor do “não” permitiria à Grécia, “com a sua forte tradição democrática, deixar o seu destino nas suas próprias mãos”.

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