A imprensa espanhola encontra-se dividida sobre a interpretação do resultado. Segundo a sua atitude face ao nacionalismo catalão, os jornais estimam que a votação se trata de um voto claro a favor da independência ou, pelo contrário, que a maioria dos eleitores exprimiu o desejo de a Catalunha continuar a fazer parte de Espanha.
O diário madrileno resume bem no seu editorial, intitulado “Derrota e vitória”, a ambivalência do resulto eleitoral, que em caso algum não pode deixar de ter consequências:
As pessoas não podem ignorar este resultado. Todos, incluindo o Governo, devem reagir. As eleições celebradas na Catalunha tiveram um enorme significado. Apesar da confusão do caráter da convocatória (plebiscito ou eleições) e apesar da fraca qualidade do debate, o nível de participação foi extraordinário, um recorde histórico em eleições regionais.
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“Uma das principais conclusões que podemos tirar dos resultados das eleições de ontem é que a sociedade catalã é muito plural”, recita o editorial do diário de Barcelona:
O novo Parlamento será formado por seis partidos diferentes. Independentistas e defensores do status quo ou reformadores, socialistas federalistas e os que se qualificam como antissistema. Uma polifonia de vozes que define uma sociedade muito complexa, mas também aberta, madura e comprometida.
“As eleições na Catalunha deixam Artur Mas na corda bamba”, estima o jornal de direita madrileno, segundo o qual, o presidente da região,
na sua viagem para a independência, a sua Ítaca, embarcou numa lista comum com a ERC e as entidades civis pró-independência e precisará agora da cumplicidade do CUP para iniciar um percurso de desconexão da Espanha. E com a legitimidade mais do que questionada por não ter alcançado, juntamente com o CUP, nem sequer 50% dos votos.
O diretor do diário catalão, Enric Hernández estima que se trata de um “triunfo claro” dos independentistas, mas observa que Mas e os seus obtiveram um “mandato insuficiente” para prosseguir para a independência:
Com uma participação recorde, à altura do que estava em jogo, o bloco independentista foi proclamado como claro vencedor das eleições do dia 27 de setembro, se as analisarmos como eleições regionais clássicas. No entanto, nem Mas nem a sua coligação – Junts pel Sí –, nem os seus potenciais sócios da CUP, conceberam esta votação como uma consulta para renovar o Parlamento e eleger o novo presidente, mas sim como um plebiscito sobre a independência. Deste ponto de vista, o mandato eleitoral do Junts pel Sí não é suficiente, tendo em conta a magnitude do compromisso que pretende alcançar.
“Artur Mas não só perdeu o seu “plebiscito” forçado, como também deixou uma Catalunha fraturada e sem projeto de Governo”, estima Alfons Ussía. Para o editorialista do diário conservador madrileno,
a primeira leitura do que aconteceu ontem no Principado [sic], é que a coligação separatista desejada pela Generalitat [o Governo catalão] perdeu nove lugares em comparação aos que tinham obtido os dois principais partidos nas eleições de novembro de 2012.
“A aposta nacionalista de Artur Mas e Oriol Junqueras”, o líder do Esquerra republicana de Catalunya, a esquerda independentista catalã, dividiu-se ontem nas urnas”, observa o diário conservador, que realça ainda que o Podemos “fracassou na Catalunha”, ao obter “11 lugares e menos de 9% dos votos”:
Os catalães mostraram que não querem a independência, pois a soma dos votos do Junts pel Sí e do CUP não atinge os 48%, um resultado que revela que a sociedade catalã está dividida em dois e que deslegitima qualquer tentativa de secessão.