Tsipras jogou as suas últimas cartas

Ao convocar um referendo para o dia 5 de julho sobre a série de medidas de austeridade exigidas pelos credores da Grécia em troca de um plano de resgate, o primeiro-ministro grego espalhou a desconfiança no seio da zona euro e colocou o seu país à beira do desastre económico, estima um editorialista grego.

Publicado em 30 Junho 2015 às 09:23

O primeiro-ministro Alexis Tsipras jogou as suas últimas cartas e o país já está a experienciar as consequências. Se este já aceitou a ideia de a Grécia voltar a utilizar o dracma, então conseguimos ver alguma lógica na sua estratégia, não em prol do país, do seu povo, mas em prol de si mesmo. Se não for este o caso, terá de voltar atrás na sua jogada antes que seja tarde demais.

Tsipras terá de dirigir-se ao povo grego e admitir que jogou as suas últimas cartas e que o fez porque acreditava que era isso que pretendiam e, em seguida, terá de explicar as perdas e os ganhos da sua estratégia. Terá de ganhar coragem para aceitar qualquer proposta que lhe seja apresentada como uma solução de último recurso. E tal requererá muita coragem.

Quanto mais tempo Tsipras deixar passar, mais a situação do país se deteriorará. Aqueles que querem ver a Grécia mergulhar no caos apoiá-lo-ão. Os gregos enclausurados, que acreditam em falsas premissas e em falsas bravatas, também o apoiarão. No entanto, a Grécia continuará a desmoronar-se, e rápido.

Tsipras pode ainda ter uma pequena oportunidade para impedir este acelerador histórico de entrar em ação. Isto será evidente se receber mais uma oferta. Não há certezas de que algo deste género acontecerá.

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Em Bruxelas e nas outras capitais europeias, os responsáveis políticos perderam toda a confiança que tinham nele. Tsipras utilizou demasiadas palavras duras contra todos e falou de forma tão negativa sobre as consequências que um acordo poderia acarretar, que acabou com todas as pontes.

Mesmo que receba uma nova proposta, quem acreditará que ele realmente irá implementar qualquer acordo?

Por outro lado, se o seu objetivo é abandonar o palco como um herói de esquerda, lamento, mas optou por uma forma muito dispendiosa e destrutiva de o fazer. Os europeus têm de entender que a Grécia é muito mais do que Tsipras e que o povo grego não enlouqueceu de repente.

O facto de o eleitorado ter acabado por escolher um político como Tsipras para o poder mostra que algumas instituições ou atores fundamentais cometeram erros fatais. Tsipras tem consciência disso e está a explorar o desespero da população ao considerar que grande parte está pronta para tudo, incluindo o regresso ao dracma.

O resultado é que estamos agora a meio da saída do euro. Se Tsipras receber e, em seguida, rejeitar uma nova proposta, a Grécia ficará fora do euro.

Mesmo que a população vote “sim” no domingo, não haverá muita margem de manobra para inverter esta tendência. Se os nossos parceiros não virem isto, a população vai cair nas mãos de forças destrutivas.

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