Um mundo de oportunidades. Foto : Takeshi Kanzaki

A vida lá fora... pode ter mais encanto

Na Alemanha, Reino Unido e Países Baixos, cada vez mais pessoas escolhem emigrar para outros continentes, em busca de melhores condições de vida. Uma espécie de êxodo que ameaça o futuro económico e social dos seus países de origem.

Publicado em 17 Fevereiro 2010
Um mundo de oportunidades. Foto : Takeshi Kanzaki

Quando Ronald Kennedy, na casa dos trinta anos, fala dos Países Baixos, utiliza frequentemente o adjectivo “irrespirável”. Originário de Vlaardingen, uma cidade industrial próxima de Roterdão, estudou Jornalismo em Utreque. O problema é que Utreque é um nó rodoviário, um cruzamento de quatro auto-estradas, onde uma casa com um quarto sem ruído é vista como o máximo do luxo.

A sobrepopulação é a principal razão para a emigração neerlandesa. Os Países Baixos, com os seus 470 habitantes por quilómetro quadrado, são um dos países mais densamente povoados do mundo. Em 2008, cerca de 120.000 pessoas saíram definitivamente do país (numa população total de 16 milhões). De acordo com as sondagens, um neerlandês em cada trinta tenciona emigrar. Esta tendência atinge também o Reino Unido e a Alemanha, países entre os mais ricos e estáveis do mundo, com que sonham os milhões de refugiados da África e da Ásia. No ano passado, a Alemanha foi confrontada com o número recorde de 165.000 emigrantes. Em 2008, 318.000 cidadãos britânicos deixaram o país, no ano passado foram 400.000 e devem ser ainda mais numerosos este ano.

Os reformados escolhem a Espanha e os países asiáticos pela doçura do clima e o baixo custo da vida, que lhes assegura um estilo de vida luxuoso. Os parasitas preferem as Caraíbas, com praias paradisíacas, sexo fácil e drogas colombianas baratas; mas a maior parte dos emigrantes são pessoas bem formadas, de meia-idade, com vida de família, à procura de tranquilidade e mais espaço. Fogem das metrópoles europeias, saturadas e pouco hospitaleiras e vão refugiar-se no Canadá, nos Estados Unidos, na Austrália e na Nova Zelândia. É um êxodo de classes médias urbanizadas, dizem os sociólogos.

Os estudos efectuados pelo Instituto Neerlandês Interdisciplinar de Demografia (INID)revelam que um em cada três candidatos à emigração está disposto a aceitar uma diminuição dos seus rendimentos. “Ninguém deixa a Europa para se tornar milionário. Bem pelo contrário. Na Austrália e no Canadá, os rendimentos médios são inferiores aos do Reino Unido”, observa Frans Buysse, administrador da Culemborg, empresa especializada nas formalidades dos vistos. É, pois, uma questão de estilo de vida.

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As investigações mostram igualmente que, na Europa, os candidatos à emigração têm em conta as condições de vida pessoal no país de origem (nomeadamente os salários ou o alojamento), mas também a situação na esfera pública. A decisão de partir pode, assim, ser fundamentada pela recusa de listas de espera nos hospitais, da má qualidade nas escolas, da criminalidade ou de conflitos sociais, sublinha Harry van Dalen, professor no Instituto de Demografia Neerlandês e na Universidade de Tilburg. Os seus trabalhos revelam, por exemplo, que os assassínios do excêntrico político nacionalista Pim Fortuyn [em 2002] e do director Theo van Gogh, morto pelas suas tomadas de posição anti-islamistas [em 2004], foram decisivos para a vaga de emigração dos neerlandeses. Muitos consideraram que estes ataques abalaram definitivamente o mito do seu país, considerado o mais liberal do mundo.

Na Alemanha, as terras longínquas atraem tanto as elites como as massas populares. As séries televisivas que encenam a vida quotidiana dos emigrados estão muito em voga, nos últimos tempos. A televisão privada VOX antecipou esta tendência, difundindo desde 2006 uma emissão intitulada "Goodbye Deutschland!". E foi publicado no ano passado um livro de conselhos práticos para preparação da partida com o mesmo título.

“Esta fuga de cérebros é muito perigosa. Dentro de quatro anos, a economia alemã terá falta de 330.000 diplomados do ensino superior”, alerta Reiner Klingholz, do Instituto Berlinense para a População e Desenvolvimento. Neste momento, já uma tese científica alemã em cada sete é defendida nos Estados Unidos, e três em quatro alemães laureados com o Prémio Nobel vivem do outro lado do Atlântico. Não faltam voluntários para substituir todos esses emigrantes; mas a maioria dos que procuram a Europa são trabalhadores não qualificados. O Estado sai assim duplamente prejudicado: por um lado, forma especialistas que aplicarão o seu talento no estrangeiro e, por outro, financia a formação linguística e profissional dos trabalhadores estrangeiros.

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