O Rei Juan Carlos recebe o vice-primeiro-ministro chinês Li Keqiang, em Madrid, a 5 de janeiro de 2011.

Um amigo que nos quer bem

Depois da Grécia e de Portugal, Pequim vem em auxílio da Espanha, atingida pela crise da dívida. Tendo em vista a compra massiva de obrigações do Estado espanhol, esta política faz parte de uma estratégia de penetração da China na Europa.

Publicado em 5 Janeiro 2011
O Rei Juan Carlos recebe o vice-primeiro-ministro chinês Li Keqiang, em Madrid, a 5 de janeiro de 2011.

"Camarada chinês, o melhor aliado de Zapatero", nota [El Mundo](http://www.elmundo.es/), por ocasião da visita do vice-primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, a Espanha, uma visita crucial para o futuro da economia espanhola. O Governo de José Luis Zapatero "faz figas para que, em 2011, a China continue a insuflar oxigénio" na economia espanhola, estima o diário conservador.

Segundo afirma, Pequim celebrou com Madrid acordos económicos no valor de 5 milhões e 500 mil euros. A China adquiriu igualmente, por um valor superior a 43 milhões de euros, obrigações do Estado espanhol e "parece estar pronta para comprar mais", facto com consequências imediatas sobre a taxa de juro da dívida, que diminuiu 9 pontos percentuais a 4 de janeiro.

El Mundo mostra-se, mesmo assim, crítico em relação à "complacência" de Zapatero, que encontrou nas hierarquias da ditadura comunista os seus "melhores aliados para estes momentos difíceis", e deseja que o chefe do Governo se inspire em Angela Merkel ou em Nicolas Sarkozy, "que não hesitaram em exigir à China o respeito pelos Direitos Humanos".

Compra de obrigações para assegurar exportações chinesas

Espanha não é um caso isolado na estratégia europeia de Pequim, observa, por seu turno, o diário polaco Dziennik Gazeta Prawna: "Todos os meses, a China compra obrigações do Estado dos países da UE por um valor de 7-8 milhões de euros, a fim de assegurar a continuação das exportações chinesas", acrescenta este diário. Ao ajudar os "PIGS" (Portugal, Irlanda, Grécia, Espanha), nota o DGP, a China "familiariza-se com o mercado europeu e, mais importante, influencia indiretamente a taxa de câmbio do euro e, simultaneamente, enfraquece a Alemanha, seu principal adversário".

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É precisamente para tranquilizar este país que o próprio Li Keqiang publicou um artigo de opinião no diário da Baviera, o Süddeutsche Zeitung, no qual saúda a "luta comum contra a crise" iniciada "nestes últimos dois anos pela China e pela Alemanha", sublinhando o volume das trocas comerciais entre os dois países — "mais de 100 milhões de euros em 2010, o que corresponde a 30% das trocas comerciais entre a China e a UE" — circunstância que faz da China o primeiro parceiro comercial da Alemanha fora do espaço europeu.

Pequim conta escapar às sanções de Bruxelas

Ao estender a mão aos países mais endividados, Pequim conta escapar às sanções de Bruxelas em matéria de dumping, estratégia que utiliza sistematicamente (a Comissão Europeia instaurou à China 50 processos por concorrência desleal), explica, no Dziennik Gazeta Prawna, o analista Yiyi Lu.

Adianta que, paralelamente, Pequim exige que a UE lhe reconheça o estatuto de economia de mercado e que altere as condições de transferência de tecnologias de ponta. A próxima etapa, conclui Yiyi Lu, será acabar com o embargo à venda de armas, imposto pela UE à China após o massacre de Tiananmen, em 1989.

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