“O primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, levou duas semanas até aceitar o inevitável, mas finalmente cedeu”, escreve o The Guardian, para quem “ao pedir a Bruxelas um empréstimo urgente, Sócrates adotou a mais radical das medidas de que dispunha – mas fez, também, aquilo que os decisores europeus, os mercados financeiros e muitos portugueses esperam já há muito tempo”.
De facto, escreve o diário londrino, o primeiro-ministro português “tinha poucas opções”, desde que, a 23 de março, se demitiu depois do Parlamento ter rejeitado o seu novo plano de austeridade. “Nessa noite, Portugal entrou no limbo político – e, para os mercados financeiros, tornou-se semelhante a um condenado à morte que está à espera de ser executado”.
"“Não será fácil aceitar mais austeridade, mas seria impossível aceitar mais demagogia, mais negação da realidade, mais incompetência política ou falta de responsabilidade”, escreve oPúblico no seu editorial *: “O regresso do Fundo Monetário internacional (FMI) representa, para Portugal, uma pesada derrota*".
No mesmo diário lisboeta, a editorialista Teresa de Sousa afirma que a decisão do governo português andava a pairar no ar desde o dia em que José Sócrates se demitiu e chegado a um ponto em que, com as taxas de juro a curto prazo da dívida pública portuguesa atingiram um nível perigosamente alto, como explica o The Guardian, “Portugal teria de pedir cada vez mais dinheiro emprestado aos mercados unicamente para pagar os juros da sua dívida”. Teresa de Sousa conclui que “não valia a pena continuar a resistir”.
"O pedido de ajuda externa urgente, antes das eleições legislativas de 5 de junho, fazia parte dos cenários que o primeiro-ministro tinha sobre a mesa desde o dia em que apresentou a sua demissão”, escreve Teresa de Sousa. “Apesar dos desmentidos oficiais sobre a existência de contactos com as autoridades europeias, esta possibilidade tinha sido levantada, pela primeira vez, no Conselho Europeu de 24 e 25 de março, logo após a demissão do governo. Os acontecimentos precipitaram-se quando, nos últimos três dias, os principais bancos nacionais pressionaram publicamente o governo para que pedisse uma ajuda europeia com ".
Outros fatores obrigaram o governo de José Sócrates a dar este passo, continua Teresa de Sousa:
*"Em primeiro lugar, a reunião informal dos ministros da Economia e das Finanças [a 8 e 9 de abril] em Bucareste, onde o governo português seria confrontado com os pedidos dos seus homólogos europeus quanto a uma clarificação imediata da situação, que de dia para dia era tida como mais difícil de sustentar. Depois, o [diário] britânico Financial Times confirmou [a 6 de abril] as revelações feitas, na véspera, pelo Público sobre os contactos entre as autoridades portuguesas e europeias sobre as várias modalidades de uma ajuda urgente por parte da Comissão Europeia. Apesar dos desmentidos oficiais, fontes próximas do governo confirmaram ao Público que tinha havido contactos entre o governo, a Comissão e o FMI*".
Ao contrário dos casos da Grécia e da Irlanda, Bruxelas precisará de fazer face a uma situação particular em Portugal, sublinha Teresa de Sousa, porque “vai ter de discutir com o governo, com o Presidente da República e com os partidos que provavelmente chegarão ao poder após as eleições”. A hipótese mais provável é uma intervenção do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) e do FMI.
Segundo o El País, o pedido português “não surpreendeu ninguém, mas foi adiada por razões políticas, porque José Sócrates queria passar esta decisão para o próximo governo”. Agora, os portugueses deverão fazer face a uma “situação paradoxal”, escreve o diário madrileno, porque o resgate da UE não significa que os problemas económicos acabaram. A economia portuguesa terá de aplicar “um plano de austeridade drástico, semelhante ou até mesmo mais duro do que aquele que o parlamento rejeitou no dia 23 de março”.
Quanto às possíveis repercussões da crise portuguesa na economia espanhola, esta última é “grande de mais para cair; grande de mais para ser salva”, segundo a fórmula consagrada retomada pelo El País.
"Um ataque contra a dívida espanhola seria, de facto, uma ameaça ao euro no seu todo: a Espanha é a fronteira entre essa guerra fria e um conflito convencional contra o euro e contra o projeto da UE […]. A reação dos mercados, nos próximos dias, confirmará ou não se a teoria do efeito dominó está correta”, comenta o diário segundo o qual, no entanto, “a solvabilidade de Espanha se distingue claramente da de Portugal e da Irlanda”, graças, sobretudo, às reformas económicas recentemente aprovadas. Por isso, conclui o El País, com otimismo*, “é muito provável que a crise da dívida europeia acabe em Portugal*".
O julgamento é mais severo na Áustria, com o diário vianenseDer Standard a chamar à primeira página “a entidade mentirosa” que constitui o euro.
"De uma maneira ou de outra, tudo isto passará. Mas com todas estas simulações e camuflagens, a credibilidade da zona euro ficou mais uma vez ferida. A União monetária transforma-se, cada vez mais, numa entidade mentirosa: a primeira das quais pretendia fazer-nos crer que a Grécia se salvaria sem ajuda. A Irlanda e Portugal foram apanhados em flagrante delito de mentira 2 e 3. O Pinóquio de ouro, a mentira número 4, é atribuído à zona euro, que pretende que os Estados salvos com o dinheiro dos contribuintes poderão pagar as suas dívidas sem reestruturação".