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Ascoli Satriano em setembro de 2023. A província de Foggia está entre as que têm mais parques eólicos. | Foto: ©Vittoria Torsello Candela in September 2023. The province of Foggia is among the ones with the most wind farms. | Photo: ©Vittoria Torsello

Terras esquecidas: roubo de terras para produção de energia renovável na “maravilhosa Apúlia”

A transição para as energias renováveis no Mediterrâneo está a levar a um aumento da aquisição de terras, muitas vezes por empresas de combustíveis fósseis. Ansiosos por melhorar as suas credenciais ambientais, compram grandes extensões de terrenos rurais para instalar parques solares e eólicos, afetando terras agrícolas vitais, agravando as desigualdades regionais e o desequilíbrio com o norte da Europa.

Publicado em 15 Dezembro 2023
Candela in September 2023. The province of Foggia is among the ones with the most wind farms. | Photo: ©Vittoria Torsello Ascoli Satriano em setembro de 2023. A província de Foggia está entre as que têm mais parques eólicos. | Foto: ©Vittoria Torsello
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Ensolarada no verão e ventosa na primavera e no outono, "Apúlia, uma autêntica maravilha", faz eco do anúncio no aeroporto de Bari, que elogia a região pela sua rica história, património cultural e paisagens deslumbrantes. Situada no sul de Itália, no centro do Mediterrâneo, a região é frequentemente retratada nas narrativas turísticas como um destino de férias preferido. Longe da atenção das revistas de viagens, a Apúlia enfrenta o despovoamento, as paisagens áridas e os terrenos abandonados.

Aqui, o cruzamento da marginalidade e da especulação apresenta desafios que afetam a vida das comunidades locais, especialmente quando este território é de interesse para as empresas de combustíveis fósseis que procuram melhorar as suas credenciais ambientais, investindo em centrais e instalações de energias renováveis.

Investimentos em energias renováveis no Mediterrâneo

No Mediterrâneo, a transição para as energias renováveis de modo a combater as alterações climáticas conduziu a uma tendência significativa: a aquisição de terras. Embora este movimento rumo a uma energia mais limpa seja positivo, levanta preocupações quanto à justiça e à especulação energética rural. As grandes empresas estão a adquirir vastas áreas rurais para instalações de energia solar e eólica, utilizando terras agrícolas de que as comunidades dependem para a sua subsistência. Apesar de os projetos de energia renovável abordarem a crise climática, "também exploram as terras de baixo custo e a marginalidade das comunidades locais", afirma Samadhi Lipari, investigador doutorado da Escola de Geografia da Universidade de Leeds (Reino Unido). Esta transição reforça a divisão territorial no Mediterrâneo, exacerbando os desequilíbrios com o norte da Europa.

Share of the total population which is either at risk of poverty or severely materially and socially deprived or living in a household with a very low work intensity in 2020. Data provided by The EU Rural Observatory.
Percentagem da população total que, em 2020, se encontrava em risco de pobreza ou em situação de privação material e social grave ou que vivia num agregado familiar com uma intensidade de trabalho muito baixa. Dados fornecidos pelo Observatório Rural da UE

As regiões afetadas pela usurpação de terras verdes no Mediterrâneo são zonas marginalizadas, mais propensas à pobreza e à exclusão social.  Estas regiões "registaram décadas de despovoamento e envelhecimento, associadas a uma tendência histórica de desinfraestruturação e desindustrialização", acrescenta Lipari. Esta situação evidencia um fosso persistente e intransponível entre o Norte e o Mediterrâneo.

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