Lojas vazias em Dublin, em novembro de 2010.

A falência é a solução

A Irlanda arrisca-se a um desabamento financeiro, enquanto a Grécia continua aumentar os seus défices. Mas cabe aos contribuintes pagar isso? Para Der Standard, os investidores, tal como os Estados, devem assumir os riscos que tomaram.

Publicado em 17 Novembro 2010
Lojas vazias em Dublin, em novembro de 2010.

Josef Pröll é bom ator. No dia 16 de novembro, o ministro das Finanças austríaco recitou o seu monólogo do credor inflexível que dá uma lição ao seu devedor. A Grécia não respeita o programa de redução das despesas estabelecido pela UE e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Atenas contrai mais dívidas do que devia.

Josef Pröll ameaçou não depositar a próxima fração da ajuda destinada à Grécia [que afinal será entregue em janeiro]. É o que fazem geralmente os credores, quer se trate de Estados ou de bancos. Ameaçam e mostram os dentes, mas, no final, acabam quase sempre por dar um prazo suplementar ao devedor: vale mais um devedor em situação precária do que um devedor morto.

Um endividamento de 150% do PIB

Só que, no caso presente, a crise da dívida na zona euro deixou de ser um caso normal e Josef Pröll sabe-o perfeitamente. De acordo com as últimas estimativas corrigidas do défice, a Grécia apresenta uma dívida que representa quase 130% do seu PIB. Até 2015, Atenas deve re-embolsar 140 mil milhões de euros da dívida, a que se acrescentam 90 mil milhões de juros. Tudo isto com uma economia que está num caos. Não é preciso ser um génio para afirmar que se corre o risco de acabar mal.

Não se trata do único caso de falência na zona euro. A Irlanda também se encontra à beira do abismo. Devido ao auxílio aos bancos, a taxa de endividamento do país deverá roçar os 150% do PIB até 2016. Os mercados avaliam os empréstimos irlandeses ao nível dos do Paquistão e da Venezuela. Os economistas irlandeses preparam-se para uma falência, com ou sem auxílios de emergência.

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Os credores deveriam pagar a sua parte

Nestas condições, os políticos apenas tentam ganhar tempo. Vista por este prisma, a pantomima de Pröll não parece absurda. Mas simultaneamente, a zona euro devia armar-se contra a próxima vaga de falências. Seria necessário obrigar os credores a participar nos custos das falências em questão.

Parece fácil, mas representa uma rutura com as práticas em vigor até agora. Começaram por ser os bancos a estar ameaçados de colapso. Os contribuintes entraram com capital. Depois, foram os Estados que vacilaram. Uma vez mais, os contribuintes – de outros países – tiveram de acorrer, para os salvar.

É necessário acabar com isto. No âmbito do G-20, manifesta-se já um esforço para desenvolver o modelo para uma re-estruturação dos bancos a nível internacional. O mesmo terá de suceder com os Estados. Na economia de mercado, existe um sistema de bancarrota que permite apagar parte da dívida. Quem investe o seu dinheiro nos produtos errados acaba por perdê-lo.

Não seremos re-embolsados do nosso dinheiro

É incrível constatar que foi da Irlanda que saíram as críticas mais virulentas, quando os alemães quiseram lançar o procedimento para uma falência estatal. A Irlanda seria provavelmente aquela a quem mais aproveitaria esse modelo. No entanto, bastou alvitrar-se a ideia para provocar um aumento das taxas de juro irlandesas e fazer o país estrebuchar um pouco mais.

Ora independentemente dos nossos sentimentos de empatia, para quando abrir o debate, se não for agora? A crise da dívida está para durar. Quem diz que, daqui a dois anos, o mercado não reagirá com o mesmo pânico? É lamentável que Berlim tenha feito marcha-atrás e adie para um futuro remoto a possibilidade de uma participação dos credores [privados] nas despesas induzidas pela insolvência de um Estado.

Não pode ser. A pantomima não pode durar eternamente. Além disso, a certa altura, os políticos vão ter de começar a explicar que também nós [austríacos], credores da Grécia, não iremos ser re-embolsados de todo o nosso dinheiro. Não é animador, mas não é nada comparado com o que espera ainda os irlandeses e os gregos.

Visto de Atenas

O "IV Reich" arruína a Europa!

No dia 16 de novembro, a Alemanha preveniu a Grécia de que, se não fizesse mais esforços de rigor, corria o risco de não receber a terceira fração da ajuda financeira europeia e do FMI, decididos na primavera. No dia 17, foi mesmo anunciado que este pagamento de 6,5 mil milhões de euros teria lugar apenas em janeiro, e não em dezembro. “A confrontação está iminente", manifesta-se To Ethnos. "Os dirigentes alemães querem isolar todos os países da zona euro e da Europa e transformá-los em colónias do IV Reich”.

A empolgada guerra mediática que opôs os dois países na primavera, quando os alemães hesitavam em ajudar a Grécia, parece ter-se reavivado. “A política económica será, por conseguinte, ditada por Berlim, tendo como 'marionetas' as instituições europeias; e a Alemanha vai conseguir destruir a única esperança dos países mais frágeis: empréstimos a juros baixos.”

“Esta política vai reforçar a posição da Alemanha na Europa", acrescenta o diário. “Já é preponderante, como se vê pelo que se passa na Irlanda. O país recusa-se a aplicar o plano de rigor e a Alemanha faz aumentar a pressão para lho impor! Esta tensão não destruirá a Europa; desde que se faça uma verdadeira resistência ao IV Reich.”

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