Uma feira de emprego em Wrocław, em abril de 2011.

A nova terra prometida

Numa altura em que a austeridade e o desemprego obrigam os jovens espanhóis, portugueses, italianos e gregos a abandonar os seus países para arranjar emprego, a Polónia está a tornar-se um destino altamente atrativo.

Publicado em 12 Junho 2013 às 12:15
Uma feira de emprego em Wrocław, em abril de 2011.

Elena Barcia Fernandez, da bela ilha solarenga de Maiorca, tinha 20 anos quando a crise atingiu a UE. Na época, em 2008, o fenómeno ainda era considerado uma crise financeira. Dois anos mais tarde, tornou-se uma crise económica. Hoje em dia, Elena é direta: é uma crise existencial. Não há trabalho, dinheiro nem perspetivas. Um em cada dois espanhóis entre os 18 e 30 anos está desempregado. E quando se tem um emprego, nunca se sabe por quanto tempo, uma vez que em Espanha há pessoas a ficar sem emprego a cada minuto. O número de desempregados aumentou para um máximo histórico de seis milhões. “Comparada com a Espanha, a Polónia é atualmente um país próspero”, disse Fernandez ao Przekrój.

Segundo ela, os jovens espanhóis estão a abandonar o país por já não acreditarem nos políticos. E por que haveriam de o fazer? Antes das eleições, o Partido Popular (no poder) declarou que iria criar 3,5 milhões de postos de emprego. O Governo anunciou recentemente que durante o seu mandato, que acaba em 2015, não iria haver novos postos de trabalho.

A mesma situação pode ser observada no Sul da Europa: em Portugal, Itália, Grécia ou Chipre. O desemprego está a afetar todos os setores e os jovens têm imensa dificuldade em entrar no mercado de trabalho. Para melhorar as suas probabilidades com potenciais empregadores, muitos jovens, na Espanha e na Itália, decidiram remover as suas tatuagens.

Os mais corajosos e determinados imigram. Os destinos populares incluem países do Norte como a Alemanha, Áustria, Holanda, Bélgica e o Reino Unido, onde a taxa de desemprego é relativamente baixa. As condições do mercado de trabalho também são mais favoráveis em Malta, no Luxemburgo e na Polónia.

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Polónia “mi casa”

“A Polónia oferece grandes oportunidades. A situação do mercado de trabalho está bem melhor do que em Espanha”, afirma Óscar Charro, 35 anos, que se instalou há ano na Polónia. Foi uma decisão bem pensada: queria abrir um negócio mas em Espanha, onde dezenas de pequenas e médias empresas fecham as portas todos os dias, não parecia boa ideia. Charro decidiu então iniciar a sua aventura num dos países da UE com um crescimento económico superior ao da Espanha. Acabou por escolher a Polónia porque aqui, diz ele, os empreendedores têm espaço para crescer. “Varsóvia é uma verdadeira capital europeia. Aqui, sinto que estou no sítio certo, na altura certa.”

Charro já lançou o seu negócio no domínio da energia solar. “Estou mesmo a considerar ficar na Polónia e continuar a minha carreira aqui”, acrescentou.

Diego Garea, 32 anos, especializado na área das TI, instalou-se em Varsóvia no mês de agosto do ano passado. Conheceu a cidade durante o campeonato da Europa de futebol de 2012 e ao regressar ao seu país foi informado de que tinha sido despedido. Surgiu-lhe a ideia de enviar o seu currículo para empresas de TI do país anfitrião do torneio. Funcionou. Desde setembro de 2012, Garea trabalha para uma pequena empresa de tecnologia digital. A sua namorada, que não conseguiu arranjar emprego em Espanha, deverá juntar-se a ele na Polónia, no próximo mês. No início, pensa trabalhar como operadora na sua língua nativa. Mas mais tarde, se os seus amigos decidirem também imigrar, tenciona abrir um restaurante espanhol.

“Para nós, arranjar emprego na Polónia é fantástico. Queremos viver sozinhos, sentir-nos responsáveis, ter os nossos deveres e despesas. Queremos ser independentes”, diz Ines Ribas Garau, uma jovem de 25 anos do Sul de Espanha. “Trabalhar permite-nos crescer”, acrescenta num tom sério. Ines Garau acredita que trabalhar, além de ser uma questão económica, é também uma questão psicológica. “O desemprego desgasta-nos mentalmente, paralisa o nosso crescimento social e emocional”, afirma.

Quando há uma década Moises Delgado se mudou para a Polónia os seus amigos espanhóis ficaram surpresos. Tal como Garau e Fernandez, a primeira vez que viajou para a Polónia foi como estudante de Eramus. Gostou do sítio, aprendeu a língua e arranjou emprego na sua área. Afirma estar feliz na Polónia: “Vir para aqui foi a melhor coisa que fiz. Sou filólogo por formação e encontrei trabalho no setor das publicações”.

Inúmeras candidaturas

Os departamentos de Recursos Humanos das empresas polacas estão estupefactos: inúmeras candidaturas a postos de trabalho vindas da Europa Ocidental amontoam-se nas suas secretárias, sobretudo para posições na área da engenharia e gestão. Muitas proveem da região mais afetada pela crise, o Sul da Europa: Portugal, Espanha, Itália. A maioria dos candidatos estrangeiros são jovens com pouca experiência, mas com formação. Outro grupo são os gestores com experiência em multinacionais. Devido à acentuada depressão no setor da construção, a procura de arquitetos em Espanha caiu em cerca de 90%. As empresas de arquitetura polacas têm sido muito procuradas.

O número de candidatos de países desenvolvidos à procura de trabalho na Polónia disparou no último ano. Algo pouco surpreendente dado que o desemprego entre as pessoas de 25 e 35 anos é de apenas 10,5%, um valor não muito mais elevado do que um dos maiores destinos de imigração, o Reino Unido, com 8%.

Ouve-se cada vez mais pessoas a falar espanhol em cidades como Cracóvia, Poznań, Wrocław ou Gdańsk. “Todas as noites vêm aqui, pelo menos, 20 espanhóis beber uns copos”, afirma um barman de Warszawska. Brindam ao sucesso. Muitos encontraram trabalho e, mesmo que ganhem menos do que na Europa Ocidental, também gastam menos. A Polónia continua a ser um país onde o custo de vida é relativamente baixo. E, ao que parece, é um lugar divertido para se viver.

“Viver aqui é extremamente divertido. A Europa de Leste costumava ser uma incógnita para nós. Estamos a descobri-la e tem sido uma agradável experiência. Aprendemos a curar a ressaca com pepino de pickles. Os polacos são muito amáveis para nós. Adoramos-vos!”, afirma Rodrigo, encostando-se ao bar. Está a pagar uma rodada de licor de noz polaco aos seus amigos espanhóis e todos erguem os copos para o tradicional brinde polaco: “Na zdrovye!”.

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