A Polónia posta à prova

Publicado em 12 Abril 2010 às 15:48

Há momentos, na história das nações, que exaltam os espíritos e moldam o seu futuro. Nós, polacos, acabamos de viver um desses momentos, com a tragédia que se desenrolou no passado sábado perto de Smolensk, e em que pereceram o nosso Presidente e diversos membros das elites políticas nacionais.

Após o choque e a incredulidade das primeiras reacções, veio o desespero, a dor e a tristeza, reforçadas pela dimensão simbólica da catástrofe. Setenta anos após o massacre das elites polacas pela NKVD [polícia política de Estaline], a Polónia paga de novo um pesado tributo no solo de Katyn [alusão ao massacre soviético de mais de 4 mil polacos vencidos, em 1940]. A História acaba de nos pregar uma partida cruelmente irónica.

Dramas e sofrimentos fazem parte do ADN da Polónia. Felizmente, são acompanhados por uma enorme capacidade de superar as maiores dificuldades. Nestes momentos, sabemos ir buscar o melhor de nós: compaixão, solidariedade, dignidade e magnanimidade. Tudo qualidades visíveis nas lágrimas de quantos se reuniram diante do palácio presidencial vazio, para acenderem velas e rezarem.

A Polónia não está só no seu luto. Palavras de consolação e compaixão chegam a Varsóvia vindas do mundo inteiro. Quem acreditaria que milhões de pessoas, do planeta inteiro, partilhariam a tragédia de um pequeno país da Europa Central e que mesmo o remoto Brasil declararia três dias de luto nacional em sinal de solidariedade com a Polónia?

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Como o desaparecimento de João-Paulo II, há cinco anos, a tragédia de Smolensk tem como efeito apertar os laços da nação polaca e fazer esquecer os diferendos existentes e as querelas políticas. Logo a seguir, houve quem se interrogasse sobre quanto tempo iria durar esta consternação. É necessário que dure, se quisermos fazer face aos desafios que nos esperam.

Os desafios são numerosos. Daqui a duas semanas, saberemos a data da eleição presidencial antecipada. Ninguém sabe qual será o candidato mais bem colocado nem se o partido Direito e Justiça apresentará um candidato à magistratura suprema, depois da morte de Lech Kaczynski.

Mas antes, precisamos de preencher os postos deixados vagos no topo da hierarquia militar, no gabinete presidencial, na Dieta [Parlamento] e no Senado, e designar um novo governador do Banco Central da Polónia. As próximas semanas porão, pois, à prova os nossos agentes políticos, as nossas instituições e a sociedade no seu conjunto. Esperemos que a Polónia saiba ultrapassar esta provação com brio. Maciej Zglinicki

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