Torres eólicas e papoilas em Nauen, Brandemburgo (Alemanha). (AFP)

A salvação está nas energias renováveis

Para travar as emissões de CO2 e limitar o aquecimento climático é indispensável mudar o sistema energético. Na véspera da conferência de Copenhaga sobre o clima (COP 15), a União Europeia anunciou que conta vir a produzir 20% da sua energia a partir de fontes renováveis.

Publicado em 10 Dezembro 2009 às 16:32
Torres eólicas e papoilas em Nauen, Brandemburgo (Alemanha). (AFP)

Primeiro dia de Janeiro de 2009. Uma vaga de frio procedente do Árctico atravessa a Europa. Em plena ressaca da noite de Ano Novo, às 7 horas da manhã, a Gazprom anuncia que o fornecimento de gás tinha sido interrompido. A tensão entre Moscovo e Kiev por causa do preço do gás natural levara a Rússia a cortar a passagem pelo gasoduto que atravessa a Ucrânia e que abastece também a Europa Central e de Leste. O corte durou 20 dias, o que fez com que, num Inverno particularmente frio, países como a Eslováquia, a Bulgária e a Moldávia não pudessem abastecer uma parte das suas populações a partir dessa fonte de energia. Segundo os últimos dados da Comissão Europeia, a UE depende em 50% das importações de combustíveis fósseis. E calcula-se que, em 2030, essa percentagem possa atingir os 70%. À primeira vista, pode parecer que segurança energética e alterações climáticas são dois problemas diferentes mas a verdade é que estão mais interligados do que poderia pensar-se.

O sector da energia é responsável por 64% das emissões mundiais de gases com efeito de estufa e por 85% das emissões de CO2. "A energia está no centro do problema e deve estar também no núcleo da solução", afirma o director da Agência Internacional de Energia (AIE), Nobuo Tanaka. Neste cenário, as energias renováveis desempenham um papel essencial para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e atenuar a dependência energética do exterior. As energias limpas não só não geram emissões como também não dependem de importações de matérias-primas de nenhum tipo: apenas de factores ambientais, como o sol ou o vento, ou de combustíveis locais, como é o caso da biomassa. Antes de se apresentar na cimeira de Copenhaga, a União Europeia comprometeu-se a reduzir em 20% as suas emissões de gases com efeito de estufa – percentagem que poderia subir para os 30%, se outros países assumissem compromissos comparáveis – e a que 20% da energia que consumirá em 2020 seja de origem renovável. Este montante inclui a energia utilizada nos transportes, o que pressupõe que a percentagem de electricidade produzida a partir de fontes renováveis se situará em cerca de 40% do total, com picos de até 80 ou 90%.

Limitar as emissões dos transportes

A comunidade científica admite que a temperatura não poderá subir mais de 2º C em relação à era pré-industrial se quisermos evitar uma catástrofe climática e, para tal, a concentração de CO2 na atmosfera não deve ultrapassar as 450 partes por milhão (ppm) - actualmente, há 387 ppm. De acordo com as recomendações feitas pela Agência Internacional de Energia (AIE) aos negociadores da cimeira de Copenhaga, para se atingir esse objectivo é também preciso recorrer ao sequestro de carbono emitido pelas centrais de gás e a carvão e pela energia nuclear. A AIE considera que deveriam ser investidos 6,6 milhões de milhões de dólares na mudança do modelo energético, 72% dos quais seriam destinados às renováveis, 19% à energia nuclear e 9% à captura de CO2. No entender da AIE, a grande proliferação de centrais térmicas e as previsões de crescimento de países sobrepovoados como a China e a Índia tornam necessária a inclusão destas tecnologias não renováveis.

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A investigação e a transferência de tecnologia dos países industrializados para os países em desenvolvimento revelam-se essenciais para limitar as emissões de carbono. Este assunto vai estar no centro das negociações climáticas. Parece lógico que países como a China e a Índia não queiram travar o seu crescimento económico e pretendam obter alguns benefícios tecnológicos, caso se comprometam a reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa. Como será possível limitar as emissões resultantes dos transportes? O automóvel eléctrico poderá ser uma das pedras angulares das soluções para as alterações climáticas. "Em 2030, 60% dos veículos terão de ser eléctricos", diz o director económico da IEA, Fatih Birol. Por outro lado, isso permitiria às políticas energéticas contar com um par imbatível do ponto de vista da sustentabilidade: automóvel eléctrico e energias renováveis. Algumas fontes limpas, como a eólica, têm uma grande capacidade de produção durante a noite, quando a procura de electricidade é menor. "Na medida em que a sua vocação é serem recarregados durante a madrugada, os veículos eléctricos poderão facilitar a integração de mais produção renovável no sistema eléctrico", garante Luis Atienza, presidente da Rede Eléctrica de Espanha.

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