José Manuel Barroso conseguirá convencer Angela Merkel da necessidade das "eurobonds"?

As euro obrigações vão salvar-nos!

Propostas oficialmente pela Comissão Europeia, as euro obrigações são encaradas pelos países em dificuldades como a solução para a crise da dívida. Resta convencer a Alemanha, que acabará por ceder, assim espera El Mundo.

Publicado em 24 Novembro 2011 às 15:49
José Manuel Barroso conseguirá convencer Angela Merkel da necessidade das "eurobonds"?

A Alemanha sentiu ontem (23 de novembro), na própria carne, a crise da dívida soberana europeia. É verdade que tal aconteceu pelas razões contrárias àquelas que atingem os países em dificuldades orçamentais, mas a fuga de investidores face à baixa rentabilidade oferecida no leilão de obrigações a dez anos – só conseguiu colocar 62% do total – devia ser uma chamada de atenção para Angela Merkel. A epidemia alastra e é cada vez mais claro que só se consegue sair desta crise de dívida soberana se remarmos todos ao mesmo tempo e na mesma direção.

Os acontecimentos precipitaram-se e levam quase irremediavelmente à criação de um tipo de dívida conjunta dos países do euro, que seja capaz de aguentar as tensões nos mercados.

As características e a forma de participação dos países nessas emissões deverão ser objeto de discussão posterior, mas é possível que tenhamos que ir repensando o euro se a UE não dirigir o seu esforço para por em marcha as eurobonds. De momento, Merkel nem quer ouvir falar delas. Ontem voltou a sublinhá-lo de forma categórica: “É inapropriado que a Comissão Europeia se centre nas eurobonds porque dá a impressão de que o peso da dívida se pode partilhar”, disse.

Apertar o cerco aos governos incumpridores

De um ponto de vista racional é possível que tenha razão. Nas atuais condições, o lançamento de um qualquer tipo de dívida conjunta seria uma forma de premiar os Estados incumpridores e castigar os que fizeram os seus deveres. O problema é saber se a zona euro consegue aguentar muito mais tempo nestas condições. Há que recordar que apenas há dois anos a crise da dívida estava circunscrita à Grécia e os seus problemas eram atribuídos à inaptidão de um Governo perdulário.

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Hoje, temos três países resgatados, mais dois estão no arame, os restantes têm dificuldades com a sua dívida e a ansiedade atinge já o núcleo duro da UE: França fez cortes do orçamento para manter o Triplo A das agências e a Alemanha tem dificuldade em captar investidores porque as suas obrigações pagam juros abaixo de 2%. Com este panorama, ninguém se aventura a pensar em prazos para além dos três meses.

Ontem, a Comissão apresentou a sua proposta de emissão de eurobonds. Sabiamente, condicionou a sua criação à concessão a Bruxelas de um maior controlo sobre as contas dos Estados-membros em dificuldades. Assim, o presidente Durão Barroso e o comissário Rehn querem que Bruxelas possa analisar e dar o seu visto prévio aos orçamentos nacionais antes de serem aprovados pelo Parlamento do respetivo país.

Propõem que a Comissão tenha capacidade para impor multas aos Estados que não sigam as suas recomendações. A iniciativa tem como objetivo apertar o cerco aos governos incumpridores mas, também, criar um clima favorável às eurobonds nos países centrais do euro e no BCE, que também não as vê com bons olhos.

O único caminho é mais Europa

Na opinião de muitos analistas a UE não tem tempo material suficiente para que as medidas que já se tomaram contra a crise deem os seus frutos e para que os parceiros do euro possam ir solucionando a crise da dívida. Por isso aumenta a pressão sobre Merkel e talvez já tenha percebido a mensagem que os investidores lhe transmitiram a 23 de novembro.

O único caminho é mais Europa. Há que exigir aos líderes políticos que deem passos nessa direção. Os investidores – e os cidadãos – estão à espera de um compromisso. No próximo dia 9 de dezembro há uma cimeira em Bruxelas em que deviam ser aprovadas medidas concretas nesse sentido. Uma reunião fundamental que apanha Espanha entre dois governos.

Por isso, há que aplaudir Zapatero e Rajoy que ontem começaram a conversar sobre a posição que vamos defender. E só pode ser a de apostar nas eurobonds que, pelo menos, já conquistaram um lugar na agenda oficial da União Europeia.

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