Austeridade, uma estratégia falhada

“A política de austeridade atingiu o seu limite”, afirmou José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia. Foi a primeira vez que Bruxelas pôs essa política em causa. Está na hora de perceber que uma via única para países tão diferentes não resulta, comenta o “Süddeutsche Zeitung”.

Publicado em 24 Abril 2013 às 15:39

Políticos responsáveis gabam-se regularmente da diversidade europeia. Referem-se, nesses casos, às tradições culturais – a maioria das quais considerada interessante e enriquecedora – desenvolvidas fora das suas fronteiras nacionais. Louvam essas diferenças e insistem em que sejam preservadas. Contudo, é interessante constatar que qualquer tipo de entusiasmo e de tolerância desaparece dos seus espíritos quando se trata de diversidade económica.

Em matéria de política fiscal, os dirigentes europeus são pela unidade monolítica. Todos os Estados-membros, incluindo os da zona euro têm de cumprir exatamente as mesmas condições. O desempenho económico de cada país é aferido pelos mesmos critérios e pouco importa que as tradições económicas europeias sejam muito diferentes de uns países para os outros.

Dívidas nacionais aumentam

No contexto da crise atual, a ideia de que todos temos de trabalhar segundo o mesmo modelo atingiu o seu limite. Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda adotaram vastos programas de reforma económica, destinados a sanar as suas finanças e cumprir as normas europeias que lhes foram impostas por igual. Mas não são capazes de atingir essas metas. E as dívidas nacionais aumentam.

De um ponto de vista puramente económico, faz todo o sentido querer primeiro reduzir o endividamento e lançar reformas para retomar um crescimento sólido. O problema é que, na prática, essa estratégia não funciona. O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, não está errado ao admitir que uma linha política não pode apenas ser válida, tendo também de ser aceite pelos cidadãos, caso contrário não terá aplicabilidade.

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Os sociais-democratas europeus reagiram imediatamente, felicitando Barroso por, finalmente, sair de um coma de cinco anos. Parece demagógico, mas não deixa de ser verdade.

Ruturas no fornecimento de medicamentos

Há muito que já se sabia que os países mais envolvidos na crise não estão a verificar melhorias na sua situação: reduzem os gastos e votam reformas, enquanto as falências das empresas se multiplicam e o desemprego dispara. O aparelho de Estado está paralisado, as decisões dos tribunais deixam de ser postas em prática porque as impressoras não funcionam, os funcionários têm de levar o seu próprio material de escritório e rolos de papel higiénico para o local de trabalho, os hospitais têm ruturas no fornecimento de medicamentos.

Em Espanha, um em cada oito cidadãos vive hoje em condições de pobreza. Trata-se de situações que pessoas de outros países mal conseguem imaginar.

Daqui, podemos extrair duas conclusões. É evidente que os países da zona euro não podem abolir os programas económicos e as reformas de um dia para o outro. Isso minaria a confiança na moeda europeia. No entanto, são necessários alguns ajustes: a Comissão Europeia tem de abrandar as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento, para dar muito mais tempo aos países em crise para atingirem os seus objetivos. A prazo, há também que pôr em questão a pertinência desse pacto (outrora elevado aos píncaros) e das suas regras rígidas e indiferenciadas. A crise evidencia-o bem: apesar da moeda única, é a diversidade económica que domina a Europa.

Visto de Espanha

Uma equação difícil

O clima económico continua “sombrio” em Espanha, declara o diário económico Cinco Días com preocupação. Segundo o ministro da Economia, Luis de Guindos, o PIB do reino espanhol deverá baixar 1,5% em 2013, em vez dos 0,5% que estavam planeados. Em 26 de abril, o primeiro-ministro, Mariano Rajoy, deve apresentar novas reformas para redução do défice. Mas o diário económico vislumbra uma esperança na declaração do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso:

De Bruxelas começam a chegar vozes que, sem questionarem a obrigação de se avançar com o ajuste fiscal, começam a defender também a aplicação de incentivos ao crescimento económico [...], há sinais crescentes que apontam no mesmo sentido.

A economia alemã, a maior da União Europeia, também está a começar a sofrer os efeitos da crise, constata o Cinco Días. O índice de negócios PMI para o setor fabril e os serviços contraiu-se em abril, pela primeira vez em cinco meses. Segundo o Cinco Días:

Isso não só sugere que a doença que tem assolado as economias periféricas começa a aproximar-se do centro da Europa, como pode criar uma quebra no dogmatismo de Berlim em matéria de austeridade. [...] O repto para Bruxelas e para os governos europeus está em saber conjugar, com artes de equilibrista, as políticas de redução do défice e da dívida pública com a introdução de medidas que abram caminho ao crescimento económico. Uma equação difícil de resolver e que Mariano Rajoy terá oportunidade de esclarecer na sexta-feira, altura em que apresentará a nova bateria de reformas económicas que deverão tirar a Espanha da difícil e obscura conjuntura em que está imersa.

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