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Foto: Agentkevinski / Flickr

Barroso II, uma nova equipa de França

A designação de comissários europeus que rodeiam José Manuel Barroso é fruto de longas negociações políticas. E no pequeno jogo de manobras tácticas, foi a França que tirou melhor partido do jogo, constata a imprensa europeia.

Publicado em 1 Dezembro 2009 às 17:11
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Como é hábito, os Estados "grandes" partilham entre si as pastas mais importantes da Comissão em termos de influência ou de orçamento (Comércio, Mercado Interno, Concorrência, Agricultura). Assim, observa o Daily Telegraph, "em cada etapa do leilão de gado que constitui a formação da Comissão, o Governo britânico foi torpedeado e os seus planos frustrados. A nomeação de Catherine Ashton saiu-lhe muito cara, porque o Reino Unido teve de renunciar às pastas económicas cruciais. E deu a Sarkozy o pretexto de que ele precisava para garantir para o seu candidato a mais importante delas, a do Mercado Interno. Não devemos subestimar os estragos potenciais que isso vai provocar: Barnier é um intervencionista (como antigo ministro da Agricultura, como poderia não ser?). Não gosta da livre concorrência nem do modelo económico anglo-saxão e parece determinado a ver os bancos europeus controlados por uma Bruxelas muito picuínhas".

A Dziennik Gazeta Prawna reconhece igualmente que a França obteve "uma vitória prestigiosa", porque "as decisões de Michel Barnier vão afectar os lucros e as perdas de milhões de europeus". A sua nomeação representa igualmente "um passo atrás para o liberalismo anglo-saxão, cujos representantes ocupavam postos-chave na Comissão cessante". Além disso, "José Manuel Durão Barroso conseguiu opor-se às pressões de Londres para retirar a Barnier a competência dos serviços financeiros, que lhe dão ainda mais poder".

Dacian Ciolos, comissário europeu francês

A França parece ter-se saído airosamente também no que diz respeito ao cargo, para ela essencial, da Agricultura. Para a pasta, foi designado o romeno Dacian Ciolos: "Ciolos, comissário europeu francês", é o título do Jurnalul National, que observa de passagem que a imprensa britânica condena essa nomeação, gritando que se trata de um "golpe encenado pelos franceses". Casado com uma francesa, com estudos em Rennes e em Montpellier, trata-se de um " verdadeiro europeu", afirma o diário de Bucareste. Se, sublinha o seu confrade Romania Libera, "a designação de Ciolos para a Agricultura desencadeou na Roménia a esperança de que vai chover dinheiro, na Europa, chovem críticas, depois do apoio da França à sua nomeação". O diário de Bucareste Gândul salienta, por último, que terá "uma tarefa mais que difícil", porque "vai ter equilibrar os interesses contrários da França e da Inglaterra".

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Outra pasta muito influente, a da Concorrência, foi para Joaquín Almunia, que herda igualmente a vice-presidência da Comissão, qualificado como "novo homem forte da União" [pelo El País](http:// http://www.elpais.com/articulo/internacional/Almunia/nuevo/hombre/fuerte/UE/elpepiint/20091128elpepiint_1/Tes). Responsável de facto pela política industrial europeia, a Concorrência tornou-se, "em plena crise económica e financeira, o cargo mais poderoso da Comissão". Por último, do lado checo, o Hospodářské Noviny surpreende-se por, apesar dos obstáculos colocados pelo presidente Vaclav Klaus à ratificação do Tratado de Lisboa, Praga ter obtido a pasta "relativamente importante" de Comissário para o Alargamento, para o diplomata e antigo ministro dos Assuntos Europeus, Stefan Füle. Entre as tarefas que o esperam, conta-se a de “preparar os países da Parceria Oriental para a ideia de que não vão aderir à União no imediato". Há uma dezena de anos, assinala o diário de Praga, que o alargamento deixou de ser o motor da integração europeia.

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