Comissão Europeia

“Dalligate” provoca mancha de óleo em Bruxelas

Publicado em 25 Outubro 2012 às 13:10

A demissão de John Dalli, o comissário europeu da Saúde e da Proteção dos Consumidores, citado na investigação do Gabinete Europeu de Luta Antifraude (OLAF) sobre o tráfico de influências podia ser um assunto encerrado, mas está a tornar-se um caso político-judicial cada vez mais embaraçoso para Bruxelas. O caso a que a imprensa já chama “Dalligate” conheceu novos desenvolvimentos que o Times of Malta resume assim, na primeira página: “Advertência de Barroso a Dalli, enquanto o Procurador-geral entrega relatório da UE à polícia. Membro do Comité de supervisão do OLAF demite-se depois de violação de procedimentos”.

A 24 de outubro, o presidente da Comissão Europeia escreveu a Dalli para “o exortar a ‘comportar-se com dignidade’ e parar com as ‘insinuações’ em torno da sua demissão”, efetivada a 16 de outubro, escreve o diário, segundo o qual “a Comissão poderá decidir uma expulsão oficial do antigo comissário maltês, o que o privaria da choruda indemnização e da reforma”. A carta de Durão Barroso segue-se ao anúncio de Dalli, que refuta as acusações, da sua intenção de contestar a sua demissão nos tribunais – malteses e europeus – afirmando que a isso foi obrigado pelo presidente da Comissão.

No mesmo dia 24, acrescenta o jornal, o Procurador-geral de Malta transmitiu as suas recomendações à polícia maltesa para que abrisse uma investigação própria. Ainda nesse dia, o presidente do Comité de supervisão do OLAF, Christiaan Timmermans, pediu a demissão. Com este ato, entendeu protestar contra o facto de o OLAF ter cedido informações sobre Dalli à justiça maltesa, sem informar o Comité, revelou na véspera o Frankfurter Allgemeine Zeitung.

“Enviar John Dalli para a Comissão Europeia foi uma estratégia arriscada, com 99,9% de possibilidades de prejudicar a imagem de Malta”, escreve a cronista Daphne Caruana Galizia no Malta Independent. Em sua opinião, o antigo comissário “nunca deveria ter sido nomeado para um cargo tão importante”:

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Enviá-lo para a Comissão Europeia foi um ato desrespeitosamente grave para com a Comissão e o próprio cargo. […] Tornou-se num motivo de embaraço nacional. Continuou a alimentar a sua desonra e mostrou até que ponto não estava à altura daquele lugar, transformando-se numa personagem de circo. […] Há alguém que impeça Dalli de se afundar? Parece claro que não. O mais preocupante deste caso é que ele não se mostra tão preocupado com a perda do cargo como com o fim das oportunidades que essa perda significa para ele.

“A demissão de Dalli é controversa e misteriosa”, escreve por seu lado o Times of Malta no seu editorial:

Dalli fala de uma conspiração contra ele. O facto de o relatório da investigação do OLAF que levou à sua demissão ainda não ter sido publicado alimenta a controvérsia e torna mais espesso o véu de mistério. Por isso, quanto mais depressa o relatório for publicado, melhor será para todos, incluindo o presidente da Comissão Durão Barroso, que pediu a demissão de Dalli, e o primeiro-ministro [maltês] Lawrence Gonzi, que aceitou essa decisão.

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