Doutora Merkel e os seus pacientes letárgicos

Publicado em 8 Novembro 2012 às 13:35

No dia 7 de novembro, Angela Merkel exprimiu a sua visão sobre a Europa perante o Parlamento Europeu em Estrasburgo. Mas a chanceler, constata o Süddeutsche Zeitung, não conseguiu convencer “ninguém com o seu plano”. Por trás da recomendação de beneficiar da crise para resolver “erros fundamentais da união económica e monetária”, Merkel esconde “o projeto de reformas mais ambicioso desde a introdução do euro”, estima o diário de Munique.

Em primeiro lugar, Merkel quer uma nova política dos mercados financeiros (com uma autoridade bancária europeia); em segundo, uma política fiscal (se possível com um cão de guarda [no sentido de chefe supervisor] europeu); em terceiro, um Parlamento Europeu mais forte para legitimar os pontos anteriores e, por fim, uma política económica comum.

A chanceler propõe portanto intervir de forma inédita nos assuntos internos dos países-membros. Uma proposta que será certamente rejeitada por estes últimos, realça o SZ, que qualifica esta reação de “patética”.

A chanceler deve sentir-se sozinha nestes últimos dias. […] Em França, o Presidente isola-se no seu mundo imaginário. Em Espanha e na Itália, regozijam-se da diminuição do custo da dívida. […] E na Grécia, ainda continuam com a esperança de renegociar. […] Merkel não tem formas de exercer pressão para se impor face à maioria letárgica. A Europa cai novamente na desorganização. […] Talvez tivesse sido melhor voltar a utilizar ferramentas de tortura, em vez de planos de construção.

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Em Genebra, Le Temps realça “a incapacidade de Angela Merkel de sair do papel de médica. Dotada para curar os seus pacientes, sem no entanto lhes inspirar confiança”.

Para o diário, o grande discurso de Angela Merkel perante os deputados europeus ilustra esta dimensão esquecida por Berlim:

Os medicamentos da doutora Merkel são “Made in Germany”. São feitos para curar dores físicas, para restabelecer o bom funcionamento de órgãos danificados por anos de integração comunitária mal gerida. Mas a Europa não sofre apenas de reumatismos. Esta está com uma grave depressão, não tem capacidade de se projetar no futuro. O problema também está na cabeça, doutora Merkel! A química alemã, à qual esteve quase a consagrar a sua vida profissional, não resolve tudo.

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