Trabalhadores imigrantes num acampamento improvisado em Nea Manolada, Grécia, a 18 de abril.

É hora de acabar com a barbárie!

Os ataques de 17 de abril contra jornaleiros ilegais que reivindicavam os seus pagamentos fazem recordar as lutas dos camponeses do século passado e mancham ainda mais a imagem de um país que já era apontado a dedo pela impunidade dos autores de violência xenófoba.

Publicado em 19 Abril 2013 às 14:54
Trabalhadores imigrantes num acampamento improvisado em Nea Manolada, Grécia, a 18 de abril.

A notícia de que os capatazes dos campos de morangos de Manolada dispararam sobre os trabalhadores imigrantes, e as imagens das vítimas feridas deixadas no pó, caiu como uma punhalada – parecia algo de outra era e de outro lugar. Veio confirmar que a Grécia está em regressão a muitos níveis, recuando para comportamentos arquetípicos. A exploração de trabalhadores indefesos por latifundiários fez sempre parte da sociedade humana, tal como os oprimidos sempre fizeram esforços heroicos para melhorar o seu destino. Os camponeses e os trabalhadores gregos desempenharam um papel de destaque em tais lutas, ao longo do século passado, e é trágico vermos hoje gregos a violarem os direitos de trabalhadores estrangeiros, denegrindo o bom nome dos seus concidadãos e apagando o brilho de lutas passadas.

Injustiça e exploração

O crime de Manolada, na zona ocidental do Peloponeso, não foi o primeiro naquela região, nem, muito menos, o primeiro na Grécia. Desde 2006 que sabemos que os imigrantes empregados na apanha de fruta de Manolada – vindos principalmente do Bangladeche – trabalham em condições péssimas por um pagamento insignificante, sem direitos e sem proteção. Também já era sabido que os empregadores não hesitam em recorrer à violência por intermédio dos seus capatazes. A situação é semelhante em muitos outros lugares e afeta os imigrantes ilegais, ainda que muitos vivam cá já há vários anos. Em geral, é sabido, a exploração e a injustiça são a regra.

Ainda há 100 anos (em 1907, para ser preciso), os terratenentes gregos ordenaram o assassínio de Marinos Antypas, um ativista que estava a organizar os camponeses sem-terra da Tessália. Três anos mais tarde, a batalha entre os camponeses e os funcionários do Estado em Kileler, na Tessália, tornava-se um marco na emancipação dos agricultores gregos.

Mas as lutas dos trabalhadores gregos não se limitaram à Grécia. Ilias Spantidakis, de Creta, que se tornou conhecido como Louis Tikas nos Estados Unidos, conquistou um lugar na história do movimento operário dos EUA, ao liderar uma grande greve de mineiros do carvão no Colorado. Em 20 de abril de 1914, foi assassinado, juntamente com cerca de 18 trabalhadores em greve, por uma milícia ao serviço dos interesses dos proprietários das minas. Por todo o mundo, os gregos têm lutado pelos direitos humanos. Na África do Sul, o advogado George Bizos continua na linha de frente da luta pela justiça, desde a defesa de Nelson Mandela, no julgamento em 1963-64, até à representação das famílias dos mineiros mortos pela polícia durante uma greve em 2012.

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Privações terríveis

Os trabalhadores estrangeiros mantiveram a produção grega viva ao longo dos últimos anos, muitas vezes passando por grandes privações. Têm o direito a condições de trabalho humanas e a uma remuneração digna, e não podem ser deixados à mercê de patrões selvagens e de um Estado indiferente, que não protege nem pune aqueles que cometem estes crimes.

Para honrar aquilo que nos orgulha no nosso passado, todos nós – agricultores, polícia, o poder judiciário e especialmente nós, cidadãos – temos de punir no nosso país os bárbaros que atuam impunemente entre nós.

Reações

Guerra à “máfia dos morangos”

O jornal Ta Nea noticia que a polícia grega prendeu três capatazes de uma exploração de morangos em Manolada, no Peloponeso, acusados de ter baleado, em 17 de abril, três dezenas de imigrantes sazonais que reclamavam seis meses de salários em atraso.

O tiroteio causou “revolta contra a máfia dos morangos”, como titula Ta Nea: os apelos ao boicote dos “morangos sujos de sangue” começaram a circular na web, depois de o caso ter revelado ao público os métodos das empresas agrícolas da região. São situações de sobre-exploração e violência física e psicológica contra imigrantes sazonais ilegais – maioritariamente oriundos do Bangladeche –, que são alojados em barracas, pagos a €20 ao dia, e muitas vezes simplesmente entregues à polícia pelos capatazes, quando chega a altura de lhes pagar.

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