O centro grego dos maníacos dos computadores é um espaço muito branco, luminoso, brilhante, na principal rua comercial de Atenas, mobilado com secretárias baratas e cadeiras do Ikea e uma máquina de café cara e muito utilizada. Aqui, ninguém desanima. No coLab pode ter-se uma secretária, banda larga e todo o café que se conseguir beber por 10 euros por dia ou por 140 euros por mês. Ou pode alugar-se um pequeno escritório por um pouco mais de dinheiro.
Algumas das cerca de doze “startups” aqui instaladas são líderes mundiais na sua área. A BugSense, por exemplo, apesar de ter sido criada há cerca de um ano, é usada por mais de 4500 empresas de telemóveis em todo o mundo para rastrear e analisar os relatórios de falhas das suas aplicações. Recentemente, recusou uma oferta de compra no valor de um milhão de libras [1,24 milhões de euros]. Outras, já saíram do coLab, nome por que este espaço é conhecido.
A TaxiBeat, uma aplicação móvel que permite aos motoristas de táxi anunciarem onde estão e aos passageiros chamá-los, dobra o volume de negócios de dois em dois meses e está a expandir-se para a América Latina e para a Escandinávia.
São ideias gregas, lançadas por jovens empresários gregos; a maior parte deles tem um doutoramento ou um mestrado naquilo a que poeticamente se chama o triângulo Internet-móvel-software.
“É um fenómeno completamente novo”, diz Andreas Constantinou, da VisionMobile, que analisa a indústria das telecomunicações móveis. “A Grécia sempre teve mentes brilhantes mas, durante muitas gerações, ser funcionário público era o único objetivo. O ordenado era bom, o emprego era para a vida, reformavam-se cedo. Mas deixou de ser assim. E as novas tecnologias – as aplicações móveis – permitem que as pessoas concretizem as suas ideias.”
Gregos relutantes a correrem riscos
A crise económica “diminuiu as expectativas que as pessoas tinham de, uma maneira ou de outra, virem a ser funcionárias públicas”, afirma secamente Gieorgios Kasselakis. É um dos donos da Open Fund, que canaliza o dinheiro dos investidores – mais de 50 mil euros, o suficiente para três ou quatro pessoas porem um produto no mercado – para negócios que têm “potencial para serem globais e contrariarem o mercado”.
O facto de os salários do setor público terem sofrido cortes que rondam os 40% e de as pensões dos funcionários públicos terem deixado de estar garantidas agiu como um “poderoso desincentivo” às carreiras no setor do Estado, diz Kasselakis.
Mas ainda há muitos entraves a um súbito e generalizadamente florescente empreendedorismo grego. Há muito quem fale em “clima anticapitalismo” generalizado, uma ressaca dos anos pós-ditadura de 1970, quando ‘negócio’ era uma palavra suja.
Há quem diga que a consequência de uma falência de empresa na Grécia – geralmente a prisão – tornou os gregos relutantes a correrem riscos. Todos se queixam da burocracia. Dimitris Michalakos da RuleMotion, que – surpreendentemente – a partir de um escritório no coLab, em Atenas, gere os ecrãs digitais LCD de última geração da reciclagem de lixo de Londres, mostra-me o seu gordo livro de faturas, cada uma das páginas e os seus duplicados perfurados com o número de identificação fiscal da sua empresa.
“Quando acabar, tenho de ir às finanças e comprar um novo, feito especialmente para mim”, diz ele. “Os recibos são em grego, o que não faz sentido para os meus clientes. Quase todos os países do mundo têm um sistema fiscal mais ou menos eficiente, mas nós não.”
Reconstruir a destroçada economia
Por razões relacionadas com a burocracia, várias das “startups” instaladas no coLab estão oficialmente registadas como sendo empresas dos Estados Unidos ou do Reino Unido e não como gregas. A maior parte dos seus negócios faz-se fora da Grécia. O Open Fund aconselhou o Governo grego a fazer uma nova lei que torne mais rápido, mais fácil e muito menos assustador fundar e registar uma empresa, diz Kasselakis. “Os requisitos mínimos obrigatórios são muito menos complicados. Agora, as pessoas têm de ser convencidas de que é mesmo assim.”
A Messinis oferece sessões de aconselhamento grátis, Hackathons [encontros de programadores informáticos, especialistas em software, designers gráficos e outros profissionais desta área para trabalharem num projeto comum], “almoços de formação” e palestras de “startuppers” de sucesso (nenhum das “startups” do coLab faliu ainda) para encorajar o processo; apoio mútuo e colaboração são essenciais.
Evidentemente, se a Grécia alguma vez conseguir reconstruir a sua destroçada economia, os jovens empresários inovadores e otimistas que decidiram ficar no seu país, ao contrário dos 76% de jovens que numa sondagem recente responderam que preferem tentar a sorte emigrando, terão um importante papel a desempenhar.
Irene Daskalakis tem passaporte canadiano e passaporte grego e podia ter começado o seu negócio – uma empresa de pesquisa e consultoria de sustentabilidade chamada Close the Loop – do outro lado do Atlântico.
“Neste momento, a Grécia bateu no fundo”, diz ela. “O sistema de clientelismo, todas essas empresas que se baseiam no patrocínio político, estão a ter de cuidar de si próprias – o dinheiro acabou. Agora, sobrevivem os melhores, a qualidade vem ao de cima. É uma boa altura para começar um negócio.”
Indústria
O que é feito das fábricas?
A Grécia "perdeu as suas fábricas", em proveito dos "serviços, dopados pelo desenvolvimento do turismo e pela liberalização dos serviços financeiros e das telecomunicações", escreve Le Monde.
Numa década, a quota do setor terciário aumentou… 83%. Mas "os serviços existem para acompanhar a indústria e não para a substituírem!", recorda Michalis Vasileiadis, economista da Fundação para a Investigação Económica e Industrial (IOBE). […] Estruturalmente deficitária, a balança comercial obrigou o país a endividar-se, para compensar o desequilíbrio. O que explica, em parte, o seu lento colapso.
Como foi que se chegou a isto?, interroga-se este diário, que refere duas explicações distintas:
A Europa, acusam uns. A Grécia, respondem os outros. A verdade situa-se, sem dúvida, entre as duas. Quando aderiu à União Europeia e, depois, à zona euro, o país teve que abrir as fronteiras, respeitar as quotas estabelecidas para a agricultura, os têxteis… A Grécia, país ainda predominantemente agrícola e pouco inovador, não estava simplesmente preparada para estas grandes mudanças.