Inundações perto de Aytré, na Charente-Maritime, depois da passagem do Cintia, Março de 2010.

Europa luta contra a subida das águas

Sem conseguir impedir a subida do nível dos mares prevista até ao fim do século, a UE tenta minorar as suas consequências desastrosas. Dois ambiciosos programas acabam de ser lançados para salvar as margens mais vulneráveis.

Publicado em 27 Abril 2010 às 14:40
Inundações perto de Aytré, na Charente-Maritime, depois da passagem do Cintia, Março de 2010.

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Em 16 de Fevereiro de 1962, uma tempestade provocou a subida brusca das águas do Mar do Norte sobre a costa de Hamburgo (Alemanha). A inundação causou a morte de 300 pessoas e deixou milhares de outras sem casa. Isto aconteceu antes de se saber que as alterações climáticas podem originar uma subida do nível dos mares de entre 0,2 e 0,8 centímetros, ao longo deste século – segundo os relatórios do Painel intergovernamental sobre as Alterações Climáticas da ONU.

A costa da Europa estende-se por cerca de 170.000 quilómetros, que abrangem 20 dos 27 Estados-membros da UE. A vulnerabilidade do continente aos efeitos da subida do nível dos mares e a erosão da costa levaram a Comissão Europeia a investir mais de 13 milhões de euros em dois projectos, com o intuito de acautelar os efeitos das alterações climáticas e de assegurar o bom estado do litoral.

Segundo a UE, adaptar a costa às ameaças que pesam sobre ela reduzirá até quatro vezes o preço a pagar pelos estragos, se não se agir a tempo. Por isso, os 27 destinaram 6,5 milhões de euros à execução do projectoTHESEUS. O plano, que conta com a colaboração de 31 instituições europeias, analisará os impactos que o litoral poderá sofrer e elaborará medidas de adaptação a esses impactos.

As cidades não estão preparadas para as futuras condições meteorológicas

Um quinto da costa europeia está a sofrer os efeitos da erosão, "que, em alguns casos, atinge os 20 metros por ano", de acordo com a coordenadora geral doTHESEUS, a investigadora da Universidade de Bolonha (Itália), Barbara Zanuttigh. O país mais afectado é a Roménia, que tem 60% da sua costa em risco, seguindo-se a Polónia, com cerca de 55%. Em Espanha, pelo menos quatro praias receberam sucessivos reforços de areia, devido à erosão. Uma das primeiras conclusões do projecto é que 9% do litoral europeu é vulnerável à inundação a curto prazo, por se situar a menos de 5 metros acima do nível do mar.

Ao longo de quatro anos, os investigadores analisarão os riscos em oito zonas costeiras representativas. O objectivo é que os resultados obtidos possam ser generalizados ao resto do litoral europeu. As zonas foram seleccionadas em função da sua vulnerabilidade, do seu desenvolvimento social e industrial e dos seus ecossistemas. Uma das áreas escolhidas foi a baía de Santander, que será avaliada pelos investigadores do Instituto de Hidraúlica Ambiental (IH) da Universitdade de Cantábria.

"Santander representa a cidade costeira típica, com turismo, indústria e aeroporto", explica o investigador do IH, Fernando Méndez. Todos estes factores são vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas e o mesmo acontece com a própria população. Isso acontece porque muitas cidades "não foram planeadas para as condições meteorológicas que poderão verificar-se nas próximas décadas", garante o director do IH, Íñigo Losada.

Objectivo: gerir o litoral em conjunto

O objectivo é analisar os impactos económicos, ambientais e sociais e elaborar as estratégias de mitigação mais adequadas. O modelo de adaptação variará em cada caso, embora entre as soluções possíveis se inclua o reforço dos diques de defesa e a regeneração dos pântanos costeiros. "Só uma mudança abrupta produziria uma alteração dramática da costa tal como a concebemos", diz Losada.

O projecto PEGASO pretende implantar o protocolo europeu de Gestão Integrada das Zonas Costeiras (GZIC) ao longo do litoral mediterrânico. Trata-se de conseguir gerir a costa de forma conjunta, para evitar que as fronteiras legais dividam um elemento natural contínuo. O projecto, dirigido pela Universidade Autónoma de Barcelona, conta com a participação de 23 instituições e de 15 países, que, durante quatro anos, analisarão outras 10 zonas do litoral mediterrânico.

As áreas foram escolhidas por terem necessidade urgente de medidas de protecção, devido aos problemas de erosão ou de perda de biodiversidade que apresentam ou ao grande risco que correm face à subida do nível do mar, como é o caso de Veneza. Se o projecto tiver êxito, os seus resultados poderão ser utilizados para estabelecer um protocolo idêntico na zona do Mar Negro.

Os peritos criaram uma base de dados comum, a partir da qual poderão planificar a futura gestão do litoral, que terá também intervenção sobre a urbanização excessiva e a poluição. "É necessário actuar urgentemente para mitigar as ameaças que as alterações climáticas representam", conclui Méndez..

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