Há 43 anos [21 de Abril de 1967], os coronéis derrubavam a República helénica e, durante sete anos, mergulharam o país nas trevas. Este triste aniversário coincide com o próprio dia em que começam as históricas negociações com o Fundo Monetário Internacional para resolver os graves problemas do país.
No passado, os coronéis apresentaram-se, com os seus tanques, como os “salvadores da Nação”. Hoje, usam os fatos cinzentos da escola de Chicago e vêm impor as suas condições e abolir a soberania e a autoridade política gregas e, por ricochete, as do povo grego. Talvez pensem que exagero, mas não há outra comparação possível. Dentro de alguns anos, toda a gente se lembrará deste dia como de luto nacional.
As negociações começaram esta manhã [em Atenas], com uma grande parte consagrada à condução da política económica. Tudo leva a crer que o lado grego já perdeu. Age sob uma pressão sufocante, de costas para a parede e sem ter muitas escolhas nem possibilidades de resistência. A sua credibilidade ficará ainda mais comprometida no futuro, as autoridades anunciarão que o deficit de 2009 atingiu 13,5% do PIB e que o seu poder de negociação enfraqueceu.
A Grécia tem perante si os dragões do neoliberalismo. Os especialistas de 30 anos que cresceram durante os anos de euforia e de poder dos mercados, que desconhecem completamente a vida real e as necessidades sociais, e que exigem que o ministro das Finanças grego, Georges Papaconstantinou, e a sua equipa de negociações remexam céus e terra. Vão exigir o pior, da abolição dos contratos colectivos à supressão das restrições aos despedimentos, passando pela redução drástica do número de funcionários, a abertura de todos os mercados e uma mudança radical na segurança social.
E, porque não há resistência social – dada a conjuntura – o resultado das negociações será provavelmente parcial e as condições impostas serão susceptíveis de provocar uma ruptura nas relações entra a política e o povo. Tudo isto é lamentável e pergunto-me como é que os dias de esperança e de criatividade pós-ditadura nos levaram a esta situação que hoje vivemos.
ATMOSFERA
Pressão fiscal e mobilização social
"Privados na caça aos impostos", é a manchete do diário To Ethnos. Para acelerar a entrada de dinheiro nos cofres do Estado, o Governo decidiu recorrer a agentes privados, gregos e estrangeiros, para controlar os impostos nos ministérios, repartições fiscais e hospitais. O ministro das Finanças calcula que poderá poupar, desta forma, certa de 1500 milhões de euros até ao fim do ano, ao mesmo tempo que combate a evasão fiscal que assola o país.
Enquanto isso, a contestação social vai crescendo. Vai haver uma greve geral a 22 de Abril. À excepção dos aeroportos, o país vai andar em marcha lenta. O sindicato de esquerda radical pediu 48 horas de greve, pelo que o porto do Pireu estará bloqueado a partir da manhã de 21 de Abril. Todos os espectáculos foram cancelados (os actores aderiram à greve), e os funcionários dos tribunais e o pessoal hospitalar faltarão em massa ao trabalho. No dia 22, juntar-se-lhes-ão professores, funcionários públicos e trabalhadores do sector privado. Os únicos que desconvocaram a greve foram os controladores aéreos.