Fumar ou não fumar

"Só há dois géneros de chauffeurs de taxi : os que tresandam a tabaco e os que não deixam os clientes fumar", disse o humorista francês Pierre Desproges. Em compensação, por todo o velho continente, há mil e uma maneiras de retratar e designar os fumadores...

Publicado em 3 Agosto 2009

É certo que a palavra inglesa "smoking" é usada por terceiros (alemães, franceses, italianos, portugueses e espanhóis, que a adaptaram para "esmoquin") para designar uma peça de vestuário, a que os próprios ingleses chamam "dinner jacket". No entanto, ela refere-se também ao hábito de "fumar": "smoking" (em Inglês), "rauchen" (em Alemão), "fumer" (em Francês), "palenie" (em Polaco), "röking" (em Sueco), "**κάπν ι σμα**" (em Grego)…

Este hábito corresponde a uma prática bem arreigada em todos os países da União Europeia. Originário da América, o tabaco chegou à Europa pela mão dos conquistadores espanhóis. Naquele continente [mais precisamente na América do Norte], fumava-se cachimbo para selar a paz. Um pedaço de História que permanece na expressão "fumar o cachimbo da paz" [usada por alemães, espanhóis e portugueses]. Contudo, o nome desta planta deriva da palavra árabe "tubbaq", que, na Idade Média, designava ironicamente uma raiz com propriedades purgantes. Por seu turno, a palavra charuto [cigar, em Inglês, e cigare, em Francês] conserva o seu aroma tipicamente ameríndio, dado que a palavra maia para designar a famosa solanácea se pronuncia "siyar".

Tendo tomado consciência das 650 000 mortes causadas anualmente por este hábito, na Europa, 140 milhões de cidadãos da União optaram por arrumar os cinzeiros no armário, firmemente decididos a não mais deixarem que se lhes aplicasse a expressão espanhola "fumando como un carretero" (fumar como um cocheiro), em referência a estes profissionais que muitas vezes impacientes por verem os clientes entrar nas suas viaturas.

Quando falam de uma pessoa que fuma como uma chaminé, "**Rauchen wie ein Schlot**", os alemães rivalizam com os húngaros, ao designar este vício fatal: "**Füstöl mint a gyárkéméni**". Entretanto, um italiano viciado em nicotina fuma como um turco, "fumare come un turco", enquanto um francês que tem o mesmo hábito, fuma como um bombeiro, "fumer comme un pompier", o que faz lembrar os dias de outrora, quando os antigos veículos usados pelos soldados da paz, eram visíveis ao longe por causa da enorme quantidade de fumo que lançavam para o ar.

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Hoje, as autoridades sanitárias esforçam-se por pôr termo a este hábito pernicioso, obrigando os distribuidores de tabaco a imprimir nas embalagens mensagens dissuasivas. Algumas são curtas e lapidares, como "fumar mata" (em Francês "fumer tue", em Polaco, "Palenie zabija", em Inglês "smoking kills"). Outras são mais elaboradas, como é o caso do slogan usado na Grã-Bretanha, "smoking may reduce the blood flow and cause impotence", ou seja, "fumar pode reduzir o fluxo de sangue e provoca impotência", e também impresso nos maços de cigarros em Portugal. O aviso fica feito mas os espanhóis são ainda mais radicais, com o seu "fumar puede provocar una muerte lenta y dolorosa" (fumar pode provocar uma morte lenta e dolorosa) e o mesmo se pode dizer dos portugueses, com a advertência "fumar provoca o cancro pulmonar mortal".

Após décadas de anúncios publicitários e de o cinema e a música terem idealizado esse gesto divino da inalação, é obviamente difícil lutar contra o vício. Quem não se lembra da canção actriz espanhola Sara Montiel? "Fumar es un placer genial, sensual…"? Dizia então ela: fumar é um prazer genial, sensual. Está bem, prometo: é só mais este [cigarro] e depois… deixo de fumar.

Pedro Picón

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