Criação de pombos. Foto de Lybraryman.

Máfia asiática desvia pombos belgas

A corridas de pombos tornaram-se num jogo a dinheiro, em que as apostas atingem milhões de euros. Os treinadores de pombos belgas, muito procurados por columbófilos asiáticos, são alvo de procedimentos mafiosos

Publicado em 31 Agosto 2009 às 14:52
Criação de pombos. Foto de Lybraryman.

Ronny Van Reet é um nome conhecido no circuito internacional da columbofilia. Na última competição nacional, com partida de Argenton [Lot-et-Garonne, França], Van Reet (de 42 anos) confirmou uma vez mais ser um dos melhores criadores de pombos da Bélgica. "A partir do momento em que se consegue boa reputação neste meio restrito, é necessário tomar muito cuidado”, explica um Van Reet manifestamente desmoralizado. Catorze dos seus “meninos" foram roubados na noite de quinta-feira do seu pombal em Mol [na Flandres]. Foram encontrados mais tarde num bosque próximo. Só com uma pata e sem anilha. "É um golpe muito rude para um columbófilo que trata dos seus pombos dia e noite. Três vezes por semana, desloco-me de propósito a Valenciennes, para os pôr a voar e para os treinar. Dou-lhes uma alimentação dispendiosa e vitaminas especiais. Não foram os melhores pombos, mas eram aves especialmente seleccionadas, com os músculos e a inteligência necessárias."

Na quarta-feira, tinha ouvido intrusos próximo do pombal. Uma testemunha ocular viu três homens com aspecto asiático depositarem sacos de plástico no bosque. Como pensou que se tratasse de despejos clandestinos, tirou fotografias aos homens e respectivo automóvel e avisou a polícia. A investigação ficou resolvida quando dois chineses e um intérprete se apresentaram espontaneamente na esquadra, por volta da meia-noite de sábado. "O relato e as fotografias têm rolado na Internet, por inúmeros sites de columbófilos. Deve ter sido dessa forma que o trio soube que eram procurados”, diz Ludo Meeus, comissário da polícia de Mol. O automóvel da fotografia da testemunha ocular era do intérprete. Quando foram ouvidos, os dois chineses mantiveram, contudo, que eram inocentes. Tinham ido à Bélgica apenas para comprar pombos. "Houve, de facto, uma testemunha ocular, mas um pombo sem anilha, para a polícia, é como um automóvel sem número de chassis. Não se pode fazer nada", comenta Meeuws. "Além disso, o proprietário não quis dar-nos os números das anilhas. Este caso ainda tem uma série de declarações contraditórias por elucidar."

25 mil euros por um pombo

Quanto a Van Reet, pensa que os autores queriam as anilhas para as porem nas patas de pombos sem valor, fazendo-os passar por pombos de um columbófilo belga de nomeada. "Levar um pombo para a China custa hoje facilmente 70 euros", explica este criador. "Se levarem apenas as anilhas, não têm custos nenhuns e dão menos nas vistas."

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Para os conhecedores, os pombos de columbófilos belgas reputados são muito apreciados em países como a China, a Formosa ou o Japão. "Os chineses estão dispostos a gastar 25.000 euros por um pombo belga de corrida", diz Rudi Hendrikx, columbófilo amador de competições e proprietário do jornal de columbofilia Duivenkrant. "Parece-me esquisito que haja chineses por trás deste roubo. No Extremo Oriente, procuram-se pombos de competição vivos para criação. Sem o título de propriedade e a árvore genealógica, não se pode fazer nada de especial com as anilhas. Em países da Europa de Leste, como a Polónia, já é diferente. Vendem-se anilhas belgas no mercado negro a cem euros cada."

Nos últimos anos, o número de corridas de pombos aumentou manifestamente no nosso país. "A Bélgica é conhecida no estrangeiro como berço da columbofilia", declara Pierre de Rijst, presidente da Real Federação Columbófila da Bélgica. "Na noite de sábado para domingo, roubaram outros 50 pombos a um famoso columbófilo de Antuérpia. Isto está a passar das marcas. Os criadores vão ser obrigados a passar para a vídeo-vigilância."

Máfia chinesa nos campeonatos de columbofilia

Jo Herbots ganha a vida como corrector de pombos e exporta aves da Bélgica para o Extremo Oriente. "Na Formosa, a columbofilia movimenta muito dinheiro", comenta. "É coisa para atingir os dez milhões de euros. Toda a gente quer apostar em pombos de criadores belgas." Alguns criadores de pombos, como Albert Pieters, secretário dos "Jovens columbófilos", originário de Herdersem, falam de uma "máfia de columbófilos asiáticos". "Quando há muito dinheiro em jogo, há logo apostas", comenta Herbots. "Considerando os preços que os pombos atingem, há muitos milhões envolvidos no jogo." Pierre de Rijst, também está ciente do poder de atracção das competições de pombos no mundo das apostas. "Existem sites na Internet onde se pode apostar nos resultados de competições internacionais." No jornal The Tapei Times, Yang Yungnane, professor de Ciências Políticas da Universidade Cheng Kung da Formosa, já fez mesmo menção a raptos de pombos no circuito dos campeonatos.

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