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A chanceler alemã Angela Merkel e o seu principal opositor Peer Steinbrück.

Mãos firmes versus dedo médio

Na etapa final da campanha eleitoral alemã, os gestos contam mais que as palavras. O dedo médio espetado de Peer Steinbrück alarga ainda mais o fosso que o separa da pessoa controlada que é a chanceler.

Publicado em 16 Setembro 2013 às 15:54
A chanceler alemã Angela Merkel e o seu principal opositor Peer Steinbrück.

Agora, Steinbrück também tem um gesto que o distingue. Um gesto que se fixa rapidamente, que funciona sem palavras e que toda a gente conhece. Resta saber se Peer Steinbrück prestou um bom serviço a si próprio, quando se fez imortalizar com o dedo médio estendido. Seja como for, obteve um resultado: em vésperas das eleições legislativas, é o centro de todas as conversas, depois da publicação de uma capa de revista que divide a Alemanha.

Há muito que Angela Merkel é associada a um gesto bem preciso: a sua forma curiosa de juntar as mãos, formando um losango [sobre o ventre], quando está de pé. Tempos houve em que o “Merkel-Raute” (o losango de Merkel) lhe valeu algum sarcasmo. Hoje, os seus estrategas de campanha difundem esse gesto em cartazes de formato XXL e em sweats com capuz, numa tentativa de transmitir a imagem de uma chanceler firme, fiável e segura de si.

Em comparação, o dedo espetado de Peer Steinbrück soa a pura provocação. É verdade que a imagem já tem algumas semanas. Mas o candidato à Chancelaria sabia que ela seria publicada hoje. O seu dedo espetado tem, portanto, o valor de uma declaração, alargando ainda mais o fosso que o separa de uma chanceler fria e controlada. E torna mais gritantes que nunca as diferenças do guião seguido pelos dois rivais, na reta final antes das eleições legislativas.

1. O significado dos dois gestos

Nos últimos tempos, a chanceler tem mostrado tendência a pôr de lado o seu “losango”. No entanto, o gesto deixou marca no espírito das pessoas, apesar de não ser visto regularmente. Angela Merkel minimiza o significado de tal postura: “Apresenta uma certa simetria”, admitiu um dia. Contudo, parece que a chanceler não dá assim tão pouca importância às suas mãos, uma vez que as exibe em cartazes do tamanho de um court de ténis.

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Em contrapartida, o dedo médio de Peer Steinbrück não se presta a exibições. Neste caso, o objetivo é causar um choque mediático, que terá repercussões durante algum tempo. A imagem desencadeou uma discussão de fundo sobre se os políticos devem ou não manter a boa educação e sobre onde se situa a linha amarela em matéria de mau gosto. [[Para uns, este gesto é uma lufada de ar fresco, para outros a violação de um tabu]].

Pode espantar vermos meia Alemanha discutir sobre um dedo espetado ou apercebermo-nos de que os engraçadinhos não têm mais que fazer do que difundir na Internet piadas sobre o “Merkel-Raute”. Mas não se pode subestimar a importância da linguagem visual. Quando se discutem assuntos e posições, em duelos televisivos ou na arena política, o símbolo faz parte do jogo. Porque, a 22 de setembro, os eleitores indecisos vão deixar-se guiar pela intuição. Os gestos ficam na memória. Mais do que as argumentações sobre os regimes de aposentação.

2. A imagem que os dois candidatos querem transmitir

Na reta final da campanha, o SPD aposta num cartaz ao estilo de Barack Obama, no qual Peer Steinbrück sorri diante de um mar de gente, constelado por bandeiras vermelhas [a cor do partido]. A sua equipa colocou no Facebook uma infinidade de fotos do candidato a chanceler, disponíveis para serem descarregadas. Peer Steinbrück diante de um kebab, Peer Steinbrück ao lado de uma pomba da paz, Peer Steinbrück de chapéu, a fazer uma caminhada. Na página de Internet do SPD, pode ver-se uma foto de Peer Steinbrück muito contente, no meio de um grupo de mulheres.

A CDU aposta tudo na sua cabeça de cartaz. E é raro esta permitir-se um desvio. Uma imagem de campanha, publicada na Internet por um jornal regional, mostra a chanceler numa atitude de boxeur, com uma expressão maliciosa. Esse tipo de facécia constitui a exceção. A chanceler joga a carta da segurança.

3. A mensagem que os dois candidatos querem fazer passar

A estratégia do SPD consiste em dizer a verdade face à chanceler do consenso. Angela Merkel declara: “Muitos salários são simplesmente desmesurados”. E Peer Steinbrück replica: “Quando for chanceler, farei aprovar de imediato o salário mínimo legal de 8,5 euros [por hora]”. A ponderação contra a veemência. “Aquilo que é justo nem sempre é aquilo que é exigido alto e bom som”, diz a chanceler, num spot de campanha da CDU. Por seu turno, os estrategas de Peer Steinbrück utilizam uma frase de uma entrevista concedida na primavera: “Digo aquilo que penso e faço aquilo que digo”.

4. Resultado da corrida: erros de guião cometidos pelos dois campos

Angela Merkel não faz ondas: optou por fórmulas do tipo “Vamos analisar isso em pormenor”. No que se refere à estética da sua campanha, mantém-se constantemente na zona de conforto, sem correr qualquer risco. Mas esse controlo total não é viável a longo prazo. Quando lhe pedem a sua opinião, por exemplo sobre o casamento de homossexuais, Angela Merkel perde o pé – em direto e perante todos os alemães.

As inúmeras exigências de Peer Steinbrück, do tipo “quero isto e aquilo”, parecem desmesuradas. Mesmo que venha a sair vencedor do escrutínio: um governo não é coisa de um só homem. [[Aliás, o seu dedo espetado mostra que Peer Steinbrück tem dificuldade em saber quem quer ser]]. Nos últimos tempos, tem tentado conquistar a simpatia dos eleitores, nos cartazes, nos comícios e perante as câmaras. Peer Steinbrück e o seu dedo médio não coadunam de modo algum com essa ofensiva de sedução e podem baralhar muitos eleitores.

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