Ideias Presidência da União
Renzi lança “Desbloquear Itália”. “Mas só depois de convencer Merkel a remover o bloqueador.”

Matteo Renzi, o anti-Merkel?

Segundo o jovem primeiro-ministro italiano, a UE tem “um rosto que reflete cansaço e resignação”. Pede, por isso, uma mudança de direção rápida durante a sua presidência na UE. Mas será isso possível?

Publicado em 17 Julho 2014 às 19:23
Renzi lança “Desbloquear Itália”. “Mas só depois de convencer Merkel a remover o bloqueador.”

Carismático e energético, Matteo Renzi, o mais jovem primeiro-ministro da história da Itália (tem 39 anos), quer mudar o seu país e quer que este volte a participar nas grandes decisões europeias. Depois de vários anos de escândalos, de corrupção e de decadência moral, pretende trazer uma lufada de ar fresco. Foi isto que demonstrou com seu brilhante discurso no início de julho, na sessão plenária do Parlamento Europeu.

A Itália assumirá durante seis meses a presidência rotativa da União Europeia e Renzi quer aproveitar esta oportunidade. As instituições europeias encontram-se em pleno processo de transição e Renzi apresentou-se como um candidato à direção da União. Mas por que terá sido tão importante o seu discurso?

Até à data, distinguiram-se duas correntes principais no seio da UE: a da austeridade, imposta pelo pensamento alemão, e a do euroceticismo. Renzi foi o único político que o afirmou com clareza: “Adotámos um Pacto de estabilidade e de crescimento económico. Temos a estabilidade, mas não temos o crescimento. […] Se a Europa pudesse tirar uma “selfie”, exibiria atualmente uma cara aborrecida”.

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Uma fasquia demasiado elevada

No entanto, Renzi colocou a fasquia demasiado elevada: quer tornar-se anti-Merkel. O primeiro-ministro italiano vê a presidência do Conselho da UE como uma oportunidade para mudar o rumo da austeridade. Há muito que os partidos políticos na Itália culpam a consolidação orçamental, imposta por uma União Europeia dirigida pela Alemanha, pela elevada taxa de desemprego e a recessão. Renzi criticou fortemente os “pais e os profetas da austeridade”, pedindo a Jean-Claude Juncker [presidente designado da Comissão Europeia] que conceda mais dinheiro aos investimentos públicos:

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A Europa não pode ser um lugar de codicilos, de conspirações, de parâmetros e limitações, uma terra de burocratas. Se morreram dezenas de milhares de jovens, não foi para passarmos o tempo todo a discutir parâmetros!

A Itália está a sofrer as consequências da sua dívida pública, que atingiu os 135% do PIB. O cálculo é simples: Renzi quer poupar tempo e estima que, como a Europa ainda não registou crescimento, um pouco de flexibilidade não fará mal nenhum.

É como assistir a um fogo cruzado… de palavras entre o Norte e o Sul da Europa: os alemães querem a todo o custo que o défice orçamental não seja ultrapassado. Renzi, pelo contrário, prometeu reformas estruturais na Itália, criticando desta forma Jens Weidmann, o chefe do Bundesbank, acusando-o de ingerência política: “O Bundesbank não deve participar nos debates políticos lançados pela Itália. A Europa pertence aos seus cidadãos, não aos banqueiros!”.

Este coro, dirigido pelos italianos, também conta com a presença dos franceses, dos espanhóis, dos portugueses e dos gregos. Todos pensam que a chave para o sucesso se encontra nos investimentos, no aumento da dívida pública e não na austeridade. Renzi sabe que cartas tem na mão: a Itália é a terceira economia da zona euro, sendo por isso muito provável que não a deixem afogar-se. Mas se o seu plano fracassar, o culpado será óbvio: a obstinada Angela Merkel.

Contraponto

A fraca tática de Renzi

Segundo o Linkiesta, parece que a “Alemanha não está disposta a conceder uma flexibilidade superior à já implícita na reforma do Pacto de estabilidade”. O site italiano estima que

a estratégia atual do Governo italiano baseia-se na relação entre os dirigentes e subestima a importância do trabalho dos “sherpas” [os funcionários que preparam os dossiês para os políticos]. É possível que esta abordagem funcione na Itália, onde a classe dirigente fracassou e perdeu toda a credibilidade, mas em outros países de sucesso como a Alemanha, a tecnocracia é respeitada e é ilusório pensar que um dirigente político a possa contornar. Assim como também é ilusório pensar que um acordo verbal com Angela Merkel seja suficiente.
Com esta atitude, observa ainda o Linkiesta, corre-se o risco de a Itália ser obrigada pelos seus parceiros a adotar as mesmas reformas estruturais que a Alemanha adotou no início da década de 2000 em troca de uma maior flexibilidade nos critérios de convergência da moeda única.

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