Foto de α

Na "capital" das excursões de finalistas

Todos os anos, dezenas de milhar de finalistas do secundário alemães vão para as praias do Sul da Europa, para festejar o fim dos exames. As cidades de acolhimento ganham dinheiro com estas festas sem limites mas também sofrem as consequências da sua palavra de ordem: o excesso. Reportagem em Espanha, em Loret del Mar.

Publicado em 20 Julho 2009 às 16:50
Foto de α

À noite, o céu por cima de Loret del Mar está totalmente cheio de lâmpadas de néon vermelhas e azuis. Mas, de manhãzinha, depois de se terem apagado as luzes do Magic Park, do Hollywood e de outros bares e discotecas, a cidade volta a ser tão cinzenta como o cimento. Os finalistas do secundário estendem-se nas suas camas de hotel. Olli, o animador, só arranca com o programa às duas da tarde: encontro no Dr. Döner, onde os barris para a noitada de sangria os esperam.

Nas últimas semanas, os finalistas ouviram os professores dizerem-lhes aquilo que todos os professores dizem, quando libertam os seus alunos para a vida, com um gesto um pouco exagerado: vocês são a elite, vão ser o futuro do nosso país. Os alunos que viajam até Loret del Mar, na costa espanhola do Mediterrâneo, deixam para mais tarde a sua entrada na elite e reservam as bebidas alcoólicas no hotel, antes da partida, porque este sistema é mais barato do que pagar uma garrafa de cada vez.

Cerca de 35 mil finalistas encaixam-se em autocarros, em direcção à Costa Brava: futuros engenheiros comerciais, dentistas, polícias federais. A vida em Loret é simples. Há a o sol, a praia, as discotecas e o álcool. Loret é um supermercado para finalistas e, durante cinco ou seis semanas do Verão, a cidade só existe para fazer esquecer a complexidade da vida depois da escola.

Olli é co-responsável pela redução da complexidade em Loret. Tem 33 anos e dirige duas dúzias de animadores que trabalham para o seu patrão, a Abi4Life, uma empresa que vende viagens para jovens finalistas. Quando os autocarros oscilam na cidade, por causa da excitação dos milhares de finalistas vindos de Berlim, Colónia ou Laubach, Olli sobe a bordo, para lhes dar as boas-vindas e debitar alto e bom som o seu conceito de umas férias bem passadas: *"Aqui, não há animação, é um delírio*!". Delírio é a palavra preferida de Olli. Aqui, delírio significa perda de controlo. É a palavra do Verão, o objectivo das férias de sete dias tudo incluído, num hotel de três ou quatro estrelas.

Newsletter em português

Loret, o paraíso das ressacas

Estes autocarros não partem apenas para Espanha mas também para a Itália, Croácia, Hungria e Bulgária. Na maior parte dos casos, dirigem-se a zonas reservadas à animação, que funcionam como Loret del Mar e que nem mesmo os jovens de 18 anos, completamente bêbedos, conseguem sujar ou destruir, porque a maior parte da cidade é feita de betão, e portanto facilmente lavável, ou é tão barata que pode ser substituída sem grandes custos.

Com os seus 38 mil habitantes, 199 restaurantes, 93 hotéis e 42 discotecas, Loret tem lucros consideráveis graças aos visitantes. No entanto, desde há já algum tempo, alguns políticos locais andam preocupados com a imagem da sua cidade, manchada por estes turistas interessados apenas no álcool, vindos não só da Alemanha mas também de França, da Rússia, de Inglaterra, da Holanda e de Itália. Loret está farta de farras.

À noite, polícias armados com matracas percorrem a avenida Just Marlès, onde as discotecas se sucedem umas às outras ao longo de quilómetros. Mas os agentes não conseguem evitar as catástrofes. Em Maio, um finalista de 20 anos, originário de Osnabrück, atirou-se de um talude, depois de uma noite numa discoteca. O seu corpo foi descoberto uma semana mais tarde, por um passeante. "Se virmos as promessas dos organizadores das viagens, pode pensar-se que se trata apenas de sexo e álcool. Os jovens julgam que têm o direito de fazer tudo", lamenta o chefe da polícia local.

Já muito ao fim da tarde, o liceu de Mittweida está esparramado na praia, perto da rede de voleibol, rodeado de latas de cerveja espalmadas. 300 metros a seguir, o liceu de Syke recupera da piela da noite anterior ao lado dos caixotes do lixo. Às 21h30, os organizadores reúnem os finalistas no hotel e dirigem-se para a discoteca Aztek, para aquilo a que Olli chama o motim da tequilla – os animadores vertem álcool na boca dos jovens.

Em frente do estabelecimento está Graham, um homem pequeno e bem constituído. Tem 53 anos e é o responsável pelo Aztek. Originário de Inglaterra, chegou a Lloret nos anos 70 e conseguiu que esta pequena cidade balnear do Mediterrâneo se tornasse num enclave sinónimo de farra para os jovens. Graham defende também que Lloret vai continuar a ser um sítio de animação, independentemente do que o chefe da polícia e o presidente da Câmara possam dizer ou do número de decretos que apareçam. Lloret quer calma e Lloret quer dinheiro. Razão pela qual os excessos poderão nunca desaparecer.

Tags

É uma organização jornalística, uma empresa, uma associação ou uma fundação? Consulte os nossos serviços editoriais e de tradução por medida.

Apoie o jornalismo europeu independente.

A democracia europeia precisa de meios de comunicação social independentes. O Voxeurop precisa de si. Junte-se à nossa comunidade!

Sobre o mesmo tópico