Central nuclear de Visaginas, Lituânia, em dezembro de 2009.

Nem tudo vai bem entre os países bálticos

Durante muito tempo ligados por um destino comum, frequentemente confundidos, os três pequenos Estados que fizeram parte da União Soviética nem sempre partilham os mesmos interesses, em especial em matéria de energia. E, hoje, é a Escandinávia que assegura a sua unidade.

Publicado em 17 Abril 2012
Central nuclear de Visaginas, Lituânia, em dezembro de 2009.

Há 25 anos, a tomada de consciência do seu destino comum e o desejo de se libertarem do jugo soviético aproximava os três Estados do Báltico. A ligação emocional era tão forte que se manteve durante uma década, apesar de as diferenças entre a Lituânia, a Letónia e a Estónia terem começado a manifestar-se, logo no caminho para a independência.

Desde o início que o pragmatismo da Estónia, o romantismo heroico da Lituânia e a "confusão" da Letónia constituíram o maior perigo para a unidade báltica, tanto do ponto de vista político como geopolítico.

Poder pertence a oligarcas ligados à Rússia

Durante o período de luta pela independência, as duas organizações nacionalistas Rahvarinne (Frente Popular da Estónia) e Sąjūdis (Movimento Reformador da Lituânia) afirmaram que a ponte da liberdade entre Talin [capital da Estónia] e Vílnius [capital da Lituânia] só poderia ser sólida, se se apoiasse nos pilares de Riga [capital da Letónia].

Esta metáfora poética, que refletia perfeitamente o clima de então, colocava uma questão essencial: esgotada pelos anos de domínio soviético e contando com o maior número de estrangeiros, a Letónia era o elo fraco da cadeia dos Estados bálticos.

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Um diplomata que passou muitos anos na Letónia recorda uma realidade muito simples: "O capital russo detém o setor económico mais importante da Letónia, os portos. Após a restauração da independência, os letões afastaram os russófonos da política e do poder executivo, porque consideravam que eles dirigiriam o país de uma maneira mais fiável. Na época, ninguém pensava que, num Estado democrático, fosse o capital a dar o tom na política. Acontece que, na Letónia, o capital está nas mãos dos russos."

Conforme provou o recente referendo sobre a legalização do russo como segunda língua oficial, na Letónia, o problema "russo" não desapareceu de modo algum e até assumiu maior amplitude. Ainda que os letões tenham levado a melhor no referendo, os 250 mil russófonos continuam a ser uma força política que é impossível ignorar e que, não estando integrada na sociedade, continua a ver Moscovo como o centro da sua identidade política. Uma força que coloca uma espada de Dâmocles sobre a cabeça da Letónia e, também, de todos os Estados bálticos.

Este fator faz-se sentir em especial na concretização de projetos de energia comuns.

Na Letónia, onde os próprios letões reconhecem que o verdadeiro poder pertence a alguns oligarcas ligados à Rússia, os políticos exprimem em voz alta as suas dúvidas sobre a construção da central nuclear de Visaginas [na Lituânia, um projeto em que participam os três Estados].

Segundo parece, Riga tenta formular o seguinte ultimato: "Se o terminal regional de gás não se situar no nosso território, nós não participamos no projeto nuclear de Visaginas." Ora, se o terminal de gás ficar na Letónia, a Gazprom não terá que se preocupar com a separação entre as redes e a distribuição do gás. [Essa separação, prevista pela regulamentação europeia, não foi adotada por Riga, que pretende beneficiar de tarifas vantajosas da Gazprom.]

Dinheiro escandinavo liga os Estados bálticos

Apesar destas discórdias, os projetos no setor da energia são o único elo físico entre os Estados bálticos. A bolsa báltica de eletricidade está em funcionamento há dois anos. E, em breve, as linhas elétricas que estão a ser instaladas ligarão os três países aos países escandinavos.

Porque um laço ainda mais forte entre esses países é o dinheiro dos bancos e dos investimentos escandinavos. Os bancos suecos, finlandeses e noruegueses emprestaram 150 mil milhões de litas [43,44 mil milhões de euros] aos países bálticos. Os mesmos bancos e uma rede escandinava de bombas de gasolina funcionam em todos os Estados bálticos.

Os países escandinavos também encorajam abertamente a cooperação militar entre os países bálticos. Pode dizer-se que os escandinavos retiraram aos norte-americanos, que, em tempos, assinaram uma carta de parceria com os Estados bálticos, o papel de unificadores entre a Lituânia, a Letónia e a Estónia. Ao lado da NATO e da União Europeia.

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