Não importa a crise pan-europeia dos jornais: a Itália tem um novo diário, decidido a ganhar o seu quinhão numa dieta permanente de arrear em Berlusconi. Com um maná de 30 mil assinaturas, recolhidas apenas com base na reputação dos seus impulsionadores, o recém-nascido Il Fatto Quotidiano é dirigido pelo timorato jornalista Marco Travaglio, conhecido pelas suas investigações dos pecadilhos dos grandes de Itália, e também pela língua afiada do seu blogue.
No seu editorial inaugural, o chefe de Redacção Antonio Padellaro declara que a linha editorial do jornal será "a Constituição italiana". Ser um "jornal de oposição" não significa necessariamente alinhar com os partidos de oposição: seguramente não com o Partido Democrático nem com a “esquerda cinzentona”, que provou ser incapaz de atingir convenientemente o navio Berlusconi. Talvez nem mesmo com o Italia dei Valori do antigo juiz Antonio di Pietro, de quem muitos consideram o diário próximo. O único objectivo fixo será zurzir diariamente no Cavaliere e seus sequazes.
Travaglio dá o mote no seu primeiro comentário acerca do julgamento do ex-Presidente da República Francesa, Dominique de Villepin, que é acusado de ter levantado calúnias graves sobre o seu rival, Sarkozy. Se tivesse aprendido um ou dois truques com Silvio, graceja Travaglio, os "togas vermelhas” (termo depreciativo de Berlusconi para designar a magistratura) nunca ousariam ir tão longe.