O jogo já dura há tempo de mais

A cimeira extraordinária da Zona euro, marcada para 21 de julho, é tida como decisiva para a resolução da crise grega. Já não era sem tempo, porque os gregos têm feito tudo quanto lhes é pedido e, em troca, têm conseguido muito pouco, defende um editorialista ateniense.

Publicado em 20 Julho 2011 às 14:54

“Um, dois, três, estás apanhado! Um, dois, três, é a tua vez!” É um pouco assim, como jogar às escondidas, que se portam os alemães em relação ao problema grego. Angela Merkel deixou-se convencer a ir à cimeira da União Europeia, marcada para amanhã. Mas já retirou todo o sentido à decisão que será tomada. Diz mesmo que é pouco provável que seja encontrada uma solução de fundo sobre o problema da dívida grega. Isto quer dizer que não devemos esperar grande coisa.

Uma das perdas da globalização é, certamente, o Estado Nação. A soberania para agir quando as indústrias transferem as suas sedes para onde a mão-de-obra é mais barata ou as normas ambientais são mais brandas. Pior: que fazer do dinheiro fresco que entra e sai da bolsa ou das obrigações que crescem e formam montanhas suíças russas. Tudo isto antes dos produtos CDS [Credit Default Swaps] que Warren Buffet classificou, justamente, como “arma económica de destruição maciça”.

Há meses que assistimos a um braço de ferro entre os países europeus e os mercados. Estes, duvidam da solidez da zona euro porque pensam que uma união monetária não pode existir sem uma política global. O que começou com a Grécia, segui depois para a Irlanda e Portugal, para continuar a espalhar-se pela Europa, como um cancro.

O capitalismo económico e monetário não brinca. Empurra a Europa a adotar uma posição clara. O problema é que a política gosta de posições vagas. Uma posição vaga nunca compromete os atos seguintes. Ou seja, os alemães têm dito frequentemente que apoiam o euro, mas perdem o fervor quando falam no apoio à Grécia. Assim sendo, há ano e meio que Berlim hesita. E há mês e meio que as coisas pioraram.

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O governo Papandréou esteve sob pressão para fazer aprovar o plano de austeridade, para que lhe seja concedido um novo empréstimo de 125 mil milhões de euros até 2015. A pressão foi tal que nos impediu de ver a formação de um governo de unidade nacional. No fim, houve apenas uma remodelação. O plano foi votado, mas ainda estamos à espera do empréstimo. Se amanhã não nos derem uma solução definitiva, os europeus farão o governo de Atenas pagar um enorme preço político, sem que este ganhe nada em troca!

A insolvabilidade da dívida grega pode explicar-se. Alguém tem de arcar com as perdas. Quer sejam os contribuintes do Norte da Europa que nos financiam, ou os banqueiros e os fundos de pensões que compraram as nossas obrigações e nos emprestaram dinheiro. Berlim quer que estes últimos participem na reparação dos danos. Mas o Banco Central Europeu vetou a proposta defendendo que se trata de uma reestruturação que é, de facto, uma falência. Por isso, não poderá aceitar as obrigações emitidas pelos bancos gregos como garantia para dar liquidez a Atenas. É aqui que está o bloqueio. Como diz o ministro das Finanças, a pior das soluções é uma solução. Ainda assim, seria bom que a Alemanha nos surpreendesse agradavelmente.

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