Vista de Peste a partir da colina de Buda, na margem direita do Danúbio.

O nosso futuro está no Leste

Os europeus do Ocidente, em geral, e os dinamarqueses, em especial, têm grande dificuldade em libertar-se dos estereótipos negativos sobre os concidadãos europeus do Leste. E contudo, em 2011 cabe à Hungria e depois à Polónia a presidência da UE, as quais revelam mais projetos do que a Dinamarca, que lhes sucederá, constata um colunista dinamarquês.

Publicado em 9 Novembro 2010 às 17:27
Vista de Peste a partir da colina de Buda, na margem direita do Danúbio.

De Varsóvia

As nossas relações com a Europa Central são estranhas. É como se nos recusássemos a ver os consideráveis progressos realizados desde a queda do comunismo, em 1989. É como se nos agarrássemos aos estereótipos do passado, mais do que as populações da Europa Central, na nossa recusa de ver que a Europa se estende também para o leste do Elba e do Oder.

Há quem se queixe de que os habitantes desses países não nos querem bem. Que querem ficar com os nossos empregos e os nossos subsídios sociais. O que nos trouxe então Schengen, se o que vemos é a nossa pequena Dinamarca devastada por esses pistoleiros, que nos invadem como ervas ruins, agora que as fronteiras desapareceram há muito? É isto que se vem vociferando na Dinamarca, nestes últimos tempos. Correndo o risco de violar a lei contra a discriminação racial.

A nossa falta de perspetiva histórica é trágica, assim como a nossa constante preocupação com vantagens imediatas. Não será possível raciocinarmos a uma escala maior? Eu sou capaz. Todos os dias me congratulo por viver numa Europa quase unida. E de ter, no seu seio, a Europa Central, sem a qual viveria numa Europa artificial, partilhada entre os Estados Unidos e a Rússia.

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2011, o ano da Europa Central

De regresso a Varsóvia, uma das capitais mais dinâmicas da nova Europa, cheia de confiança e iniciativa, ainda que não seja a mais bonita, penso para mim que, se fosse mais novo, talvez me fosse instalar lá. Fervilha de vida. O facto de não haver, que eu saiba, nenhum jornalista dinamarquês na Polónia diz muito do provincianismo da profissão e da morte anunciada da imprensa escrita que dele decorrerá.

O ano de 2011 será da Europa Central. Efetivamente, a Hungria assumirá a presidência da UE no dia 1 de janeiro e, seis meses depois, o seu sucessor será a Polónia, um dos mais prósperos dos novos países da UE, com quase 40 milhões de habitantes, um Governo liberal e aparentemente competente, sem nenhum pequeno fascista nas esferas do poder, com tradição, uma cultura antiga, uma modernização em pleno desenvolvimento, uma economia em crescimento rápido e uma situação estratégica entre a Alemanha e a Rússia.

Quanto à Hungria, como os seus recursos pecuniários não são abundantes, propõe-se trabalhar na consolidação da bacia do Danúbio, uma região de grande potencial, que vai da Baviera ao mar Negro. Este projeto parece claro e preciso.

A Polónia é mais rica, mas as suas ideias ainda não estão bem definidas. Quer ocupar-se do próximo alargamento para leste, das novas repúblicas bálticas, da desoladora Bielorrússia, da atualmente pouco promissora Ucrânia e da Moldávia, onde o problema da Transnístria precisa de ser resolvido, para que os polacos possam tentar melhorar realmente as relações entre a UE e a Rússia.

Porque as relações russo-polacas, apesar de satisfatórias, estão longe de ser suficientemente boas. Em Varsóvia, recorda-se ainda a intervenção russa contra a Geórgia, em 2008, e segue-se com desconfiança as operações de Moscovo em Berlim e Paris, que visam remeter a Polónia para uma posição subalterna.

Uma presidência dinamarquesa em saldos

A Dinamarca pode ter um papel a desempenhar nesta matéria, dado que acede, no próximo dia 1 de julho, à famosa troica, antes de assumir a presidência da UE no início 2012. Mas quando se procura conhecer as suas ideias e os seus projetos para esse mandato, fica-se a saber que faltam dinheiro e ambições. “A presidência dinamarquesa da UE será uma presidência de saldos”, a acreditar num analista.

Seria uma vergonha. Ao lado da gestão dos processos concretos, a presidência dinamarquesa deveria iniciar um projeto-modelo, por exemplo, criar um laço real entre os países bálticos, a Europa Central e a tal Europa Ocidental que, demonstrando uma arrogância excessiva, se considera há muito a verdadeira Europa. Como se o lucro dos mais abastados fosse o objetivo da União Europeia.

Cooperação regional

Estratégia do Danúbio vai ser lançada em breve

Os representantes dos 14 países atravessados pelo Danúbio reuniram-se a 8 de novembro em Bucareste, numa última cimeira antes do lançamento da Estratégia do Danúbio, no primeiro semestre de 2011, sob a presidência húngara da UE. O Presidente romeno, Traian Basescu, aposta no desenvolvimento do transporte naval europeu como "principal dimensão económica do Danúbio", enquanto o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, citado pelo Evenimentul Zilei, considera a Estratégia como uma ocasião para eliminar "os desfasamentos essenciais entre os países-membros [da UE - Alemanha, Áustria, Bulgária, República Checa, Hungria, Roménia, Eslováquia e Eslovénia], mas também entre os Estados-membros e os outros Estados da região [Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Ucrânia, Moldávia, Montenegro e Croácia]". Os projetos beneficiam de um financiamento europeu até aos 95 mil milhões de euros, aos quais se acrescentam créditos do Banco Europeu de Investimento e do Banco para a Reconstrução e o Desenvolvimento.

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