"O Norte já pagou", proclamam no parlamento italiano os deputados da Liga do Norte, contra as transferências de fundos para as regiões do Sul.

Optar entre diversidade ou solidariedade

As tensões regionais na Bélgica e em Itália, tal como o destino reservado aos ciganos, são a prova: nenhuma sociedade pode ser simultaneamente generosa e heterogénea. E essa conclusão também se aplica à União Europeia. É essa a tese defendida por dois economistas franceses.

Publicado em 27 Setembro 2010 às 15:48
"O Norte já pagou", proclamam no parlamento italiano os deputados da Liga do Norte, contra as transferências de fundos para as regiões do Sul.

A crise política que a Bélgica está a atravessar é um símbolo de um profundo mal-estar europeu. Três meses passados sobre as últimas eleições legislativas, ganhas pelo partido independentista flamengo, o país continua sem Governo.

Alguns políticos valões, que de início se mostraram serenos, encaram agora a possibilidade da desintegração de um país dividido entre as comunidades valã e flamenga, sistematicamente em oposição. No entanto, a diversidade não é um obstáculo fatal para os Estados-nações. Apesar das fortes tensões separatistas, a Espanha e o Reino Unido acabaram por combinar o regionalismo com a unidade nacional. Os Estados Unidos, templo do comunitarismo, não parecem correr o perigo de explodir.

Na realidade, a diversidade faz estremecer a integridade nacional quando é acompanhada por grandes transferências intercomunitárias. Aquilo que os flamengos censuram aos valões não é o facto de falarem Francês mas de beneficiarem de uma proteção social generosa, financiada pelos impostos dos primeiros. Os italianos do norte não têm nada contra o modo de vida fleumático dos seus compatriotas do sul, só não querem subsidiá-los.

A diversidade, coveiro das ambições federalistas

Este conflito entre abertura ao outro e generosidade financeira pode parecer paradoxal mas não é exclusivo da Europa. Embora não sejam reticentes em ver coexistir no seu território modos de vida completamente diferentes, os americanos não estão dispostos a alargar a sua solidariedade e o seu esforço para lá de um estreito círculo de proximidade, a sua "comunidade". Este défice de capital social, de interesse pelo bem comum, traduz-se de forma concreta na sua vida quotidiana.

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Alberto Alesina, professor em Harvard, descobriu, por exemplo, que as cidades americanas com grande diversidade (cultural e social) são também aquelas onde os serviços públicos têm menos qualidade. A recolha de lixo é menos frequente, as bibliotecas municipais são mais pequenas, o sistema de esgotos deficiente, os programas de ajuda social menos desenvolvidos. Contrapartida da diversidade, a ausência de solidariedade coletiva tem por vezes um preço político: os países mais heterogéneos têm governos mais instáveis, quando não mais autoritários.

A diversidade, essa imensa riqueza do continente europeu, pode muito bem ser também o coveiro das ambições federalistas. Sob esta perspetiva, o triste assunto dos ciganos romenos é mais uma ilustração do princípio da arbitragem entre diversidade e solidariedade. Nenhum dos Estados da União, nem sequer a Roménia, considera este povo nómada como uma parte da sua comunidade.

Todos os Estados os expulsam sem procurar realmente resolver o problema. Como não são o problema de ninguém, os ciganos passam a ser o problema da Comissão Europeia que, por emanar de comunidades muito diferentes entre si (os Estados europeus em toda a sua diversidade) não dispõe dos meios necessários para os proteger, para além das posições moralizadoras.

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