48 horas de caminho. Na estrada de Narva, Estónia, para Ivangorod na Rússia, onde a gasolina é muito mais barata. Foto: Ben/Flickr

Os prazeres da gasolina na fronteira russa

Em Narva é preciso esperar mais de dois dias, numa fila, para entrar na Rússia. Do outro lado da fronteira a gasolina é muito mais barata. Uma tentação para quem quer ganhar mais algum dinheiro.

Publicado em 3 Fevereiro 2010 às 15:32
48 horas de caminho. Na estrada de Narva, Estónia, para Ivangorod na Rússia, onde a gasolina é muito mais barata. Foto: Ben/Flickr

Segundo Vladimir Mižui, director da empresa Transservis-N, que pertence à cidade de Narva e gere o tráfego na fronteira, apenas 5% das pessoas que fazem fila para passarem para o lado russo viajam em turismo ou para tratarem de negócios. Todos os outros vão a Ivangorod [a cidade russa do outro lado da fronteira], onde as estações de serviço nascem como cogumelos, encher os depósitos e voltam logo a seguir para Narva. A principal razão deste comércio é o aumento do desemprego na Estónia. E na Rússia a gasolina é duas vezes mais barata do que neste seu país vizinho. Além do mais, a passagem está facilitada para quem tem passaporte cinzento [atribuído aos não cidadãos, como é o caso, sobretudo, dos russófonos da Estónia], porque não precisa de visto para entrar na Rússia. Antigamente, muitos os habitantes de Narva ganhavam a vida a venderem os cigarros que compravam do outro lado da fronteira, mas hoje a situação é mais complicada: desde Julho do ano passado a importação de cigarros da Rússia está limitada a dois volumes por pessoa.

Em Narva há cada vez mais táxis que andam com gasolina russa e que cobram pelo trajecto apenas 20 ou 25 coroas estónicas [cerca de 1,50 euros]: “Não é mau para os jovens de Narva que tiveram de voltar da Finlândia e da Suécia porque, lá, deixou de haver trabalho para eles. E como aqui também não há trabalho, são motoristas de táxi”, explica Mižui.

Uma destas pessoas a quem aqui chamam benzovoz, ou transportadores de gasolina, um homem de 43 anos, desempregado, confessa: “A venda de gasolina russa é igual ao contrabando dos cigarros. Hoje, há muita gente a fazê-lo. Com um depósito cheio ganha-se entre 500 e 700 coroas [entre 33 e 46 euros]”.

É preciso bilhete para ficar na fila

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Conta que precisa, ao todo, de seis horas para a viagem de ida e volta e dois dias e meio de espera na fila, para atravessar a fronteira. “Quando volto de Ivangorod tenho de voltar para a fila. Não consigo fazer mais de 10 viagens por mês. Nos meses bons consigo ganhar três ou quatro mil coroas [entre 200 e 266 euros]”.

Foi criado um sistema de senhas para a fila, com duas opções para atravessar a fronteira. A solução rápida, utilizada sobretudo por quem vai mais longe do que Ivangorod, é uma senha que garante a passagem da fronteira a uma hora pré-determinada, custa 300 coroas [20 euros] e tem de ser comprada com dois ou três dias de antecedência. Os benzovoz não têm dinheiro para uma senha tão cara. Mas têm a possibilidade de entrarem na fila a partir de casa. Para isso, tiram uma senha, na Transservis, onde consta um número e a matrícula do carro. Acompanham, por computador, o andamento da fila e quando está quase a chegar a sua vez, metem-se no carro e vão até ao posto fronteiriço e, daí, seguem para Ivangorod. Mas os traficantes de gasolina temem que o negócio não dure muito mais tempo. “O Governo pode acabar com isto de um momento para o outro, como já fez com os cigarros. Se o Governo limitar o transporte de gasolina, vai começar a haver criminalidade. Quando não há dinheiro, o crime aumenta.

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