A tranquilidade proporcionada pela intervenção do Banco Central Europeu na passada segunda-feira durou pouco: o dia de pânico vivido ontem nas Bolsas de todo o mundo só teve precedentes quando estalou a crise financeira de 2008 e a ameaça de que a dívida francesa pode ser o próximo objetivo dos movimentos especulativos mais não fez do que aumentar o nervosismo.
Ver o Presidente francês interromper as férias para resolver a situação é um sintoma que fala por si e cuja gravidade nem as declarações benevolentes das agências de rating conseguiram explicar.
Plena integração ou desaparecimento do euro
É provável que Sarkozy não seja o único a ter de regressar mais cedo ao gabinete e, nesse sentido, o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, devia voltar quanto antes a Bruxelas, para tomar conta da gravíssima situação. José Luis Zapatero devia fazer o mesmo, por causa das consequências devastadoras desta conjuntura na economia espanhola e no sistema financeiro, em geral, e no empobrecimento das famílias, em particular. É evidente que o objetivo da cimeira do passado dia 21 de julho, que era evitar o contágio a Espanha dos países em dificuldades e já auxiliados, não funcionou.
O BCE teve de salvar, no limite, a Itália e Espanha—terceira e quarta economias da zona euro— e França —a segunda— está na mira. Será que a Alemanha vai continuar a ignorar esta situação na sua privilegiada torre de prosperidade? Até agora, Angela Merkel aceitou com reticências a corrente maioritária nos conselhos europeus a favor das operações de salvamento que, no caso mais grave da Grécia, nem sequer funcionaram, facto que lhe custou uma frente de inimigos internos que ameaça a sua própria estabilidade política.
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Tudo indica que se aproxima o momento em que não haverá mais do que duas alternativas: ou uma integração fiscal completa de toda a zona euro, uma hipótese eliminada por muitos economistas alemães, ou o fim da moeda única, uma hipótese que iria ferir de morte o projeto europeu. Angela Merkel manteve até agora uma posição inequívoca de compromisso europeísta, mas também conseguiu dar uma volta de 180º sobre assuntos tão graves como a energia nuclear. A Europa depende, mais uma vez, da decisão da Alemanha.