Ilustração de Alberto Ruggieri

Pode ser que a saúde do euro venha de Leste

Fragilizada pela crise grega, a União Monetária tem de seguir em frente, para se reforçar, garante o Handelsblatt. Para este diário económico, chegou a altura de integrar na zona euro as economias mais dinâmicas da União Europeia: as dos países de Leste.

Publicado em 18 Fevereiro 2010 às 15:41
Ilustração de Alberto Ruggieri

Pode parecer estranho que a estabilidade e a reputação do euro venham um dia a tirar partido da Polónia, da Bulgária ou da Estónia. No entanto, é essa a realidade. É verdade que, em tempos, as palavras "economia polaca" foram sinónimo de caos e de má gestão. Mas, depois da mudança política que sofreu há 20 anos, a Polónia está completamente diferente. Hoje, este nosso vizinho de Leste é o único país da UE a apresentar um crescimento económico, no meio de um mar de crise.

Por seu turno, a Bulgária, durante muito tempo considerada extremamente corrupta – ao ponto de, pela primeira vez na sua história, a UE ter tido de anular subsídios previstos para um Estado-membro – é o único país que, em plena crise, cumpre os critérios de Maastricht em matéria de défice orçamental. Em contrapartida, a Letónia, a Roménia e a Hungria, que só escaparam à bancarrota graças aos biliões de ajuda da UE e do FMI, encontram-se numa situação que não lhes permite entrar para a zona euro.

Estados mais virados para o rigor monetário

A entrada da Polónia, da República Checa, da Estónia e da Bulgária iria reforçar a moeda comum europeia. Para já, até os representantes do Governo alemão acabaram por passar a encarar os seus vizinhos orientais como uma coisa boa para o euro – e não como um risco. Porque, em termos de economia de mercado, estes países consolidariam as forças de uma zona euro cada vez mais poderosa face aos partidários do estatismo do sul do continente.

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Por um lado, estes Estados de Leste estão muito mais claramente orientados para o crescimento e para a disciplina orçamental do que os do Sul. Por outro, a Polónia, a Roménia e a Bulgária poderiam contar – ao contrário do que se passa em relação aos países em crise da zona euro, a Espanha, a Grécia e Portugal – com um reforço de meios da parte de Bruxelas. Isso fortaleceria as suas economias, modernizaria as suas infra-estruturas e traria vantagens orçamentais.

Uma necessidade e uma obrigação

A introdução do euro no Leste não é apenas função da vontade desses Estados, que se comprometeram a isso quando da sua adesão à UE. Aliás, não foi só na zona euro que a crise grega suscitou reflexões sobre a estabilidade. Durante a crise económica, os futuros Estados-membros da zona euro também realizaram debates sobre o "modelo sueco": obrigado efectivamente, por tratado, a aderir a ela mas sem fazer nada para isso.

Enquanto, antes da crise, Varsóvia punha a hipótese de aderir ao euro em 2012, por ocasião do Campeonato da Europa de Futebol, que se realizará nessa data no seu território, hoje, a iniciativa parece ter sido adiada por muito tempo, e não apenas por causa dos défices orçamentais provocados pela crise. Desde que esta começou, em Varsóvia, discute-se se será razoável introduzir as necessárias alterações à Constituição. Para já não falar dos dolorosos esforços de reforma fiscal, que teriam da acompanhar a introdução do euro. Políticos e economistas sublinham que a desvalorização da moeda nacional, o zloti, trouxe claras vantagens para a economia, durante a crise. E o mesmo acontece noutros países.

O euro é bom para todos

A situação é diferente nos Países Bálticos e na Bulgária, onde as cotações das moedas nacionais se encontram desde há muito solidamente ancoradas ao euro. Aqui, os especialistas recomendam a rápida introdução deste último, o que traria vantagens, sem dificuldades suplementares.

Por conseguinte, a introdução do euro no Leste é proveitosa para todos: para eles e para nós. Mas, com a condição sine qua non, de os Estados envolvidos cumprirem a totalidade dos critérios da moeda única. E há outra coisa que deve ser clara: os potenciais novos membros da zona euro não deverão pagar os estragos causados pelos erros cometidos pelos gregos e pelos espanhóis.

(Handelsblatt todos os direitos reservados)

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