Pouco a pouco, a nossa natureza está a desaparecer

A União Europeia estabeleceu a meta de 2010 para travar o desaparecimento das espécies no continente. Mas, infelizmente, tudo indica que esse objectivo não vai ser cumprido.

Publicado em 22 Maio 2009 às 16:02
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Fazer um balanço continua a ser arriscado. Stavros Dimas, o comissário europeu para o Ambiente, prestou-se ao exercício em Atenas, nos dias 27 e 28 de Abril, perante a fina-flor dos peritos em biodiversidade. Este balanço impunha-se não apenas porque o mandato da Comissão chega ao fim dentro de algumas semanas, mas também porque, há sete anos, a comunidade internacional marcou encontro em 2010 – que o mesmo é dizer amanhã – para aferir os progressos realizados em matéria de luta contra o desaparecimento de espécies e a degradação dos ecossistemas constatados em todos os continentes.

O objectivo tinha sido adoptado pelas Nações Unidas, mas a União Europeia (UE) preferiu mostrar-se mais ambiciosa e comprometer-se a "estancar a erosão da biodiversidade" até 2010. O levantamento elaborado por Jacqueline McGlade, directora executiva da Agência Europeia do Ambiente (EEA), mostra que um pouco de prudência teria evitado aos europeus verem-se hoje compelidos a assumir um verdadeiro malogro. "O objectivo para 2010 não será atingido e a biodiversidade europeia permanece fortemente ameaçada", confirmou.

Entre 40% e 70% das espécies de aves e entre 50% e 85% dos habitats naturais da fauna e da flora europeias encontram-se em "situação de conservação crítica", de acordo com os dados de um relatório que a EEA se prepara para publicar.

Teve ao menos êxito no retardamento do ritmo a que a natureza se debilita sob o efeito da fragmentação do território, do alargamento das cidades e das estradas e da intensificação da agricultura? O debate continua em aberto.

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"A nível mundial, metade da natureza desapareceu desde a era pré-industrial e recua ainda ao ritmo de 1% por ano. Talvez seja menor na Europa, desde a criação do Natura 2000", adianta Andrew Balmford, professor da Universidade de Cambridge (Reino Unido). Com 25.000 sítios classificados, que cobrem 17% do território europeu, o Natura 2000 constitui a primeira rede de áreas protegidas do mundo. Mas estes espaços têm sobretudo vocação para preservar as espécies ditas “notáveis", não a biodiversidade que se poderia considerar vulgar, sobre a qual assenta o essencial dos serviços prestados pelos ecossistemas.

Em 2006, a UE adoptou um plano de acção para a protecção da biodiversidade. A sua aplicação não teve seguimento. "Este plano não tem carácter vinculativo. É a sua grande fraqueza. Sem ameaças de sanções, é ilusório pensar que os governos ou os actores económicos terão em conta a biodiversidade", observa Tony Longo, representante do Fundo Mundial para a Natureza (WWF).

“As alterações climáticas e a perda de biodiversidade estão intimamente ligadas; as duas crises devem ser tratadas com o mesma nível de importância", defendeu Stavros Dimas. Com efeito, os ecossistemas desempenham um papel essencial na regulação do clima. Os peritos consideram que absorvem metade das emissões de gases com efeito de estufa emitidos pelo homem.

Em Atenas, a Comissão e os cientistas apelaram a que os europeus redobrem esforços e se dotem, sector a sector – agricultura, equipamentos, ordenamentos do território, etc. –, de objectivos quantificados que permitam realmente bloquear a destruição da natureza. Bruxelas deveria lançar rapidamente uma campanha para sensibilização dos cidadãos europeus. Em 2007, 75% deles ignoravam o significado da palavra biodiversidade, de acordo com uma sondagem realizada para a Comissão.

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