Lutando com Silvio. A Justiça (esquerda) vence o Presidente Giorgio Napolitano, o primeiro-ministro Enrico Letta e Daniela Santanchè, deputada próxima de Berlusconi

“Que prevaleça a racionalidade”

O ex-primeiro-ministro foi definitivamente condenado pela primeira vez, em 1 de agosto, por fraude fiscal. Mas não pode ser banido de cargos públicos, levando os jornais italianos a perguntar-se por quanto tempo o seu destino pessoal vai pesar sobre a política do país.

Publicado em 2 Agosto 2013 às 15:29
Lutando com Silvio. A Justiça (esquerda) vence o Presidente Giorgio Napolitano, o primeiro-ministro Enrico Letta e Daniela Santanchè, deputada próxima de Berlusconi

O Supremo Tribunal de Itália confirmou a sentença do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi a quatro anos de prisão por fraude fiscal, em 1 de agosto, rejeitando o recurso sobre o veredicto dos dois tribunais inferiores sobre o caso Mediaset. A sentença será comutada, devido a uma amnistia para crimes cometidos antes de 2006, para um ano de serviço comunitário ou prisão domiciliária. Os juízes também ordenaram que a anterior decisão de proibir Berlusconi de cargo público por cinco anos devia ser revista por um tribunal de Milão.

“Berlusconi, a convicção é final”, traz o La Repubblica na primeira página. Para o diário, esta frase mostra que “a lei civil e a separação de poderes ainda vigoram em Itália” e confirma que “todos são realmente iguais perante a lei”. Num editorial intitulado As consequências da verdade, o diretor do jornal argumenta que:

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Para se chegar a este resultado – obter plena justiça – foram precisos 10 anos de investigação, seis de julgamento, com os trâmites permanentemente a serem bloqueados por “monstruosidades” judiciárias criadas pelas próprias mãos do primeiro-ministro Berlusconi para ajudar o réu Berlusconi, minando os códigos e os procedimentos e criando novos, à imagem e semelhança do seu interesse no caso.

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Numa mensagem de vídeo emitida logo após a sentença, Il Cavaliere proclama a sua inocência, ataca o sistema judiciário e garante ao público que não vai retirar-se da política; em vez disso, pretende reformar o seu partido político original, o Força Itália. O ataque de Berlusconi é apoiado pelo jornal da sua família, Il Giornale, que traz na primeira página: “Berlusconi, ainda não acabou”. Num [editorial em vídeo](http://www.ilgiornale.it/video/interni/sallusti-pdl-non-pu-subire-questo-affronto940454.html], o editor Alessandro Sallusti diz que:

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O problema é político, o problema é que o poder judiciário queria eliminar o dirigente do principal partido político italiano. [...] Estamos a testemunhar uma sentença política, um assassínio político, que não diz respeito apenas a Silvio Berlusconi, mas a todos os milhões de italianos que apoiaram Berlusconi e o PdL durante vários anos e não querem entregar o país à esquerda.

“Berlusconi condenado, mas continua em jogo”, traz o Il Corriere della Sera. O jornal argumenta que:

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A sentença de Berlusconi não pode ser considerada uma questão “privada”. É, pelo contrário, um facto público e político de topo. Irá certamente ter consequências políticas. Por exemplo, vai forçar o PdL a enfrentar a realidade da sua liderança coxa. [...] O destino do governo é incerto. A única forma de amortecer o golpe mortal sofrido pelo sistema político italiano seria seguir o convite do Chefe de Estado e aceitar a realidade, traçando uma linha na areia, virando a página e começando de novo.

O que deve ser evitado agora é o país pagar a conta, escreve o jornal La Stampa, sob a manchete “Berlusconi condenado: não saio”. O jornal salienta, em editorial, que, pela primeira vez, os italianos devem deixar “que a racionalidade prevaleça” e perguntar-se se

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podemos tentar sair da crise em que nos afundámos ou se devemos embarcar numa nova temporada de gritos, afrontas e campanha eleitoral. [...] O Supremo Tribunal de Justiça pôs um fim, como sempre faz, a uma série de meandros judiciais. E isso certamente não tem que ser o começo do nosso fim.

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