Sascha Lobo, um bloguista amado e odiado

Insurreição contra a conservação de dados, desconfiança em relação ao Google e ao Facebook: A Alemanha, em matéria de Internet, é um país "emergente", afirma Sascha Lobo. Este famoso bloguista e pioneiro da Internet na Alemanha também inspira sentimentos opostos: é tão detestado quanto solicitado.

Publicado em 22 Maio 2012 às 11:06

Por que motivo é que toda a gente odeia Sascha Lobo? No decurso desta entrevista, só fiz uma pergunta. O resto veio por acréscimo. Sascha Lobo propõe que nos encontremos no Soho House Berlin, antiga sede do SED [o partido socialista da ex-RDA]. É pois neste edifício que domina Berlim que nos encontramos. A tarde está feia e chuvosa na Torstraße. A rua mais feia de Berlim é também a que tem mais ligações. Começamos logo a falar da maneira como nos dirigimos uns aos outros na Internet. Ou melhor, do que se pode dizer e do que não se pode dizer.

Sascha Lobo afirma: "A língua da Internet é uma língua à parte. A injúria é parte integrante dela. Existe uma poesia da injúria". A Internet ainda não foi completamente entendida na Alemanha, assegura: "Ficamos com a impressão de que as pessoas pensam isto da Web: se entrar, vão gozar comigo." A única coisa que é preciso saber é que não se deve comprar nada na Web, exclama, a rir. A Alemanha continua a ter tudo o que é próprio de um país "emergente" assustado pela novidade.

As respostas de Sascha Lobo são perentórias e educadas. Dá a sua opinião na qualidade de Sascha Lobo, de figura da Web, de embaixador. E está sempre no modo "entrevista". Tornou-se um hábito seu. Falar e estar constantemente a ser ouvido. Assimilou, pura e simplesmente, as regras do jogo: vender, divertir, fazer-se notado. A entrevista corre o melhor possível, perante um interlocutor com um discurso que se mostra agora organizado, como numa pauta de música.

Invejar, desprezar, renegar, detestar

O êxito de Sascha Lobo revela uma carência. A Internet é um mundo criado por especialistas que serve de tabuleiro de jogo aos bloguistas. O resto da sociedade acomoda-se voluntariamente a uma utilização passiva da Internet. A sociedade digital alemã é uma monarquia e a Internet é a sua reserva – Sascha Lobo reina como mestre absoluto, ou quase. Quinze anos de Internet viraram tudo de pernas para o ar e ninguém sabe o que isso significa para nós. Só dois tipos de pessoas sabem o que nos espera: os apaixonados da informática e os que traduzem para o grande público o que eles maquinam. Estes tradutores são os especialistas da Net.

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Na Internet, os bloguistas têm os seus hábitos e mantêm-se num meio fechado. Consequentemente, as comunidades virtuais alemãs apresentam uma certa consanguinidade. Por outras palavras, há um fosso entre os iniciados, de um lado, e os leigos, do outro. Quanto mais as Cassandras nos põem de sobreaviso contra o grande mal da Web, considerada responsável pelo declínio cultural, mais os otimistas se manifestam a favor da nova vida digital.

É difícil encontrar uma figura mais vidente e mais ativa, que se esmere tanto para revelar este universo ao público. Sascha Lobo bloga, discursa, explica, tweeta e publica crónicas na maior parte dos sites da Internet. E como já lá está há muito tempo, e parece continuar a ter prazer em realçar esta fórmula eficaz e que isso lhe permite ganhar confortavelmente a vida, este homem é alvo de um ódio feroz. Invejado pelos concorrentes imediatos, os outros bloguistas, desprezado pelos media analógicos, porque interpreta um lado essencial do mundo, e renegado pelo grande público, que desconfia dos movimentos de massas. Se inserirmos "Sascha Lobo Arschloch" [Sascha Lobo idiota] no Google, obtemos nove mil resultados.

Um réptil de crista vermelha

É preciso dizer que este homem não faz nada para que as pessoas gostem dele: a sua marca comercial é uma crista de iroquês pintada de vermelho. O penteado não seria tão evidente se ele não tivesse de o usar repetidamente por uma questão de marketing. Para ser reconhecido. Muita gente vê nisso uma forma de decadência, mascarada de cinismo, que não lhe custa nada odiar. Escarnecer de si próprio e ver-se em perspetiva sempre foram parte integrante da estratégia de comunicação de Sascha Lobo.

E é ele que afirma: "A Internet funciona para cada emissor como se fosse um canal de retorno e confronta-nos permanentemente com as nossas estratégias de conduta." Tudo aquilo que é dito encontra um eco colossal. Para tudo existe sempre uma opinião, uma reação, uma crítica, censuras, uma réplica. Vivemos na era da democracia escrita. A democracia está por fazer na Internet, onde os comentadores constituem uma espécie de "Câmara do Povo".

Numa democracia, qualquer poder executivo tem de conciliar resultados eleitorais e tomadas de posição para que tudo corra bem. Na Internet, aqueles que outrora se encontravam na última fila e não se atreviam a levantar a voz, têm agora a oportunidade de se fazerem ouvir. E aqui incluem-se os falhados e os resmungões. Este modo de comunicação põe em questão a noção de verdade absoluta. Não existe uma verdade e uma mentira, mas simplesmente um debate eternamente recomeçado. As nossas estratégias de conduta são ridicularizadas sem consideração, em público. Até mesmo a estupidez geral. Sascha Lobo encara a desenvoltura reinante da seguinte forma: "O problema de as pessoas lerem apenas os dez primeiros resultados de uma pesquisa não é do Google.”

A primeira geração de jovens nascidos na era digital já se queixa na escola dos professores de Informática, que acha lentos, e qualquer aluno consegue piratear o computador ou o iPhone do professor de Biologia. Talvez venhamos um dia a dizer desta época: foi uma fase de transição extraordinária. Naquela altura, ainda conseguíamos ver filmes de borla na Internet, era uma era de ouro, mesmo que um punk fosse obrigado, sem parar, a explicar tudo aos imbecis. Mas não fazia mal. Sascha Lobo talvez venha a ser, um dia, o símbolo desta época de transição. Desta época em que estava tudo virado de pernas para o ar. Há ainda qualquer coisa de réptil neste energúmeno de crista vermelha.

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