Sanok (Polónia): o Soldado Destemido Chvéïk, herói da literatura checa, de Adam Przybysz.

Ser checo, um sonho polaco

Os checos são o povo de quem os polacos mais gostam, segundo um estudo recente. Porque encontram nos seus vizinhos as qualidades que eles próprios gostariam de ter?, pergunta o muito “checófilo” escritor polaco Mariusz Szczygieł.

Publicado em 9 Fevereiro 2011 às 15:58
Beentree  | Sanok (Polónia): o Soldado Destemido Chvéïk, herói da literatura checa, de Adam Przybysz.

Leio o SMS enviado pelo checo Petr Vavrouška reagindo à notícia do dia, anunciada pelo Instituto Polaco de Pesquisa de Opinião, CBOS, que afirma que metade dos polacos adora os checos: “Acho que não vos resta mais ninguém para gostarem senão nós. Não gostam dos alemães, nem dos russos e dos bielorrussos, e agora embirram com os lituanos. Dos vossos vizinhos, já só nos têm a nós e aos eslovacos”.

Segundo um estudo recente, 51% dos polacos gosta especialmente dos checos, contra apenas 12% que não gosta deles. Em segundo lugar, aparecem os eslovacos (49% de opiniões positivas). A grande novidade: estes dois vizinhos destronaram os americanos (que, no entanto, continuam a ser amados por 43% dos polacos)!

A bem da verdade, devo dizer que historicamente nunca gostámos de nenhum dos nossos vizinhos, e que o simples facto de nascer checo e ateu já era, provavelmente, em si mesmo um pecado. Pois bem, hoje estou feliz. Desconheço a razão exata pela qual cada um dos polacos interrogados gosta dos checos, mas sei porque é que eu próprio gosto do meu amigo Petr Vavrouška. Há dois anos que ele vive em Varsóvia com a mulher, Katka, e os dois filhos, e trabalha como correspondente para a rádio checa. Quando relatou a beatificação, dentro em breve, do Papa polaco João Paulo II, a sua estação de rádio pediu-lhe para refazer a gravação. Tinha exagerado um pouco ao falar, como um verdadeiro polaco, nos “milagres de João Paulo II”, esquecendo que, para os ouvintes checos, era preferível referir os “eventuais milagres do Papa João Paulo II”. (“Gostam de nós porque não somos tão piedosos como vocês”). Quando Petr se dirige a um padre, trata-o por “senhor”, coisa a que os padres polacos não reagem bem, por vezes ficam mesmo zangados, e esclarecem-no que tal termo não se aplica a um padre, que é “quase uma pessoa sagrada”. (“Mas é, de facto, um senhor e não uma senhora, não é verdade?”, espanta-se Petr).

Comparando as campanhas eleitorais na Polónia e na República Checa, noticiou, fascinado, que os políticos polacos, seja qual for a sua orientação política, utilizam todos uma palavra que, no entanto, está ausente do discurso político checo. Trata-se da palavra “patriotismo”. (“Na verdade, de que é que vocês, os polacos, têm medo?”, pergunta ele). E quando, por sua vez, se lhe pergunta o que é que nos distingue, responde: “A histeria”. Sobretudo no que nos diz respeito a nós próprios. (“Para nós, os checos, é uma coisa desconhecida”).

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Petr pensa que apreciamos a calma e o equilíbrio checos, e que gostávamos de ser assim. Segundo ele, a República Checa aceitou ser um pequeno país, “a histeria e o desespero não são características nossas”.

Os polacos, pelo contrário, perseguem obsessivamente quem procurar diminui-los. Não sabem verdadeiramente se são um país pequeno ou grande, nem se são ou não considerados em pé de igualdade com a Alemanha e a França. (“Isso desgasta-vos e mantém-vos numa constante tensão, muito provavelmente nunca conhecerão a paz”).

E eis a minha própria análise: os 51% dos polacos que gostam dos checos, gostam porque eles são como nós não conseguimos ser. E porque eles agem como nós ainda não sabemos agir. Gostamos neles daquilo que nós próprios não temos. E que tanto queremos ter.

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