Depois dos grandes receios quanto à sobrevivência do euro, há um ano, a ameaça paira agora sobre outra das principais conquistas da integração europeia: a livre circulação de pessoas. Perante a chegada de cerca de 30 mil imigrantes provenientes do Norte de África, Roma e Paris não acharam nada melhor do que pedir a revisão do acordo de Schengen, com a finalidade de restabelecer os controlos nas fronteiras internas e impedir que hordas de imigrantes indesejados venham ameaçar a sua prosperidade.
Desde que os europeus passaram a poder deslocar-se livremente de um país para outro, as fronteiras deixaram de representar o aspeto mais visível da soberania dos Estados. Mas, hoje, esta vai de vento em popa e os Estados-membros reassumiram o controlo de várias áreas em relação às quais, essencialmente por motivos de política interna, consideram ter melhores condições para gerir os problemas, a começar pela política externa e, agora, pela segurança. Mas não quando se trata de, como fez Roma, apelar à solidariedade dos parceiros, quando a situação escapa ao seu controlo.
A exigência de uma distribuição mais equitativa das tarefas e dos encargos entre os Estados-membros do espaço Schengen é legítima: atualmente, os Estados situados nas fronteiras externas da zona de livre circulação são responsáveis pelo controlo dessas fronteiras. A verdade, porém, é que o símbolo é igualmente importante. E ainda mais porque este recuo coincide com uma abertura, também ela simbolicamente forte: a dos mercados de trabalho alemão e austríaco aos trabalhadores originários dos antigos países comunistas.
Desde que os europeus podem deslocar-se livremente entre os países, a UE deixou simbolicamente de ser para eles um mercado comum e tornou-se uma verdadeira comunidade. Um progresso que, na verdade, contribuiu muito mais para a construção da Europa dos cidadãos do que os tratados, regulamentos e diretivas. Pôr em causa esse progresso é ameaçar uma das razões de ser da própria União Europeia.