Casino perto de Kyrenia, na parte turca de Chipre

Slot-machines para lá da linha verde

Alvo de um embargo internacional, a parte turca de Chipre procura desenvolver os seus próprios recursos económicos. A mais recente iniciativa foi abrir casinos, para atrair os turistas estrangeiros.

Publicado em 2 Agosto 2010 às 16:27
Casino perto de Kyrenia, na parte turca de Chipre

Será possível levantar um país construindo casinos? Sim, responderiam os dirigentes de Chipre do Norte. Esta entidade, surgida após a separação das comunidades turca e grega da ilha, em 1974 [data da invasão de metade da ilha pela Turquia], e autoproclamada Estado independente em 1983, só é reconhecida como tal pela Turquia. A República Turca de Chipre do Norte está sob um severo embargo internacional: político, económico, turístico e cultural.

A Turquia – o "país-mãe", como lhe chamam os cipriotas turcos – é a única ligação com o mundo. É de lá que vêm e para lá que vão os únicos voos. É de lá que vem a moeda em circulação na região, a libra turca. É de lá que vêm os produtos existentes nas prateleiras das lojas. Chipre do Norte "exporta" para a Turquia, sobretudo citrinos e um raki [bebida alcoólica] de boa qualidade. Mas o verdadeiro fluxo de dinheiro da Turquia cai sobre as mesas de jogo.

Aqui a crise não se faz sentir. O país tira partido do facto de a economia turca estar em crescimento, apesar da crise económica mundial. O banco central de Chipre do Norte apresenta um excedente de 4500 milhões de dólares, e isto num "Estado" que tem pouco mais de 200 mil habitantes. Grande parte desse dinheiro entra nos cofres através da tributação dos casinos. Proibidos na Turquia, são verdadeiras dádivas para Chipre do Norte. Satisfazem o desejo dos anatolianos com posses de tentar a sorte. Mas não só destes. Alguns turistas vindos de Israel e da Europa Ocidental (na maioria ingleses) desafiam o embargo para virem jogar. A 20 de julho, dia da República autoproclamada, abriu as portas um novo casino em Kyrenia (Girne, em turco), uma pitoresca cidade portuária na costa norte da ilha.

É preciso ter algum cuidado quando se fala do isolamento da região. É certo que estão ali estacionados 30 mil a 40 mil soldados turcos. Um pouco por todo o lado veem-se zonas militares, cercadas por arame farpado. Mas há muitos cipriotas turcos que têm direito a passaportes da República de Chipre [parte grega, internacionalmente reconhecida e membro da ONU e da UE], podem viajar como qualquer cidadão europeu e podem atravessar livremente a linha que verde que separa as duas partes da ilha. Muitos turcos trabalham na zona grega, onde os salários são cerca de 50% mais elevados do que na região Norte (onde o salário mensal médio é de cerca de 600 euros).

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A relação dos cipriotas turcos com o "país-mãe" não é feita apenas de afabilidade. O Governo de Ankara reduziu os subsídios que concedia à ilha. E o grande receio é que a Turquia possa transformar Chipre do Norte em moeda de troca para a cobiçada adesão à União Europeia.

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