Taxa Tobin: Sarko a solo

Publicado em 9 Janeiro 2012 às 12:25

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‘Taxa Tobin’, o grande bluff”, é o título de La Tribune, quando Nicolas Sarkozy assegura que a França "não ficará à espera que os outros países [da UE] estejam de acordo para aplicar" uma taxa sobre as transações financeiras no combate à especulação financeira. O Reino Unido é contra esta taxa e a Alemanha quer um consenso europeu sobre esta matéria, mas o Presidente francês promete apresentar um texto em fevereiro ao parlamento do seu país.

Para este diário económico fromique français, o anúncio inesperado na véspera do encontro de 9 de janeiro entre a chanceler alemã e o chefe de Estado francês é um erro motivado pela proximidade das eleições presidenciais:

Mais do que um erro, o cavaleiro solitário anunciado pelo Eliseu é uma falta. Uma falta contra a Europa, que defende um projeto comunitário, a única forma de ter peso a nível mundial; uma falta contra a convergência fiscal franco-alemã, agora que é mais indispensável do que nunca que os dois países conciliem esforços; e, por último, uma falta contra a própria França, que não tem qualquer interesse em deixar partir os raros empregos financeiros que ainda não foram deslocalizados para Londres.

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Na Alemanha, este “solo de Sarkozy” faz rir a Spiegel-Online, que qualifica a iniciativa do Presidente francês como um “ovo de cuco” no ninho alemão.

A grandiloquência verbal do projeto não consegue dissimular o facto de que, com o seu ato solitário de surpresa, Sarkozy põe em causa a sempre invocada coordenação entre Paris e Berlim; uma integração mais forte da política económica no seio da UE e da zona euro fica também comprometida. É por esse motivo que, em Berlim, esta manobra foi recebida com uma alguma irritação. Steffen Seibert, porta-voz do Governo, declarou: ‘O objetivo da Alemanha continua a ser o mesmo, ou seja, aplicar esta taxa em toda a UE’.

Que motivo terá Sarkozy para ser um cavaleiro solitário? Em Barcelona, La Vanguardia aponta uma razão simples: a necessidade de se livrar da imagem de lacaio de Angela Merkel:

Uma paródia cruel sobre o casal Merkozy, difundida na noite de passagem de ano, pelo canal televisivo ARD, baseada num sketch britânico da década de 1960 - Dinner for one [Jantar para um] -, sintetiza o perigo mortal que esta conhecida imagem representa para Sarkozy. No sketch, a chanceler alemã surge como dona de uma grande casa, sentada à mesa onde não há mais ninguém, com o Presidente francês a fazer de lacaio. Uma metáfora sarcástica de uma cimeira europeia, onde Nicolas Sarkozy é apresentado em voz-off como "leal servidor", sempre pronto a servir o copo da sua dona e a obedecer às instruções recebidas: 'Madame Merkel, o mesmo procedimento da última cimeira?’, pergunta, solícito, à chanceler...

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