Um dia a Turquia conduzirá a UE

A Turquia ainda nem sequer é membro da UE, mas o vice-primeiro-ministro turco, Ali Babacan, já reivindica um papel de primeiro plano para o seu país. E com o seu crescimento económico e demográfico, arrisca-se mesmo a consegui-lo, escreve Die Presse.

Publicado em 28 Setembro 2010 às 16:45

“Se a Turquia se tornar membro da UE, não ficará na segunda fila e é por isso mesmo que a nossa adesão preocupa tanto alguns países como a Alemanha e a França”, declarou orgulhosamente o vice-primeiro-ministro turco, Ali Babacan, à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque.

Este desejo de ver a Turquia desempenhar um papel de relevo baseia-se em factos sólidos: com um crescimento económico que, este ano, deverá atingir os 7%, uma influência crescente no setor energético, onde é uma placa giratória, e um potencial praticamente inesgotável de recursos humanos, o país passou recentemente para a via rápida para a Europa.

Atualmente, a Turquia é a 17ª economia do mundo. Na opinião dos especialistas, dentro de 20 anos deverá estar entre as dez primeiras e ultrapassar países como a Espanha e a Itália. Ao mesmo que tempo irá, segundo as previsões da IIASA [Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados] e do Vienna Institute of Demography [Instituto Demográfico de Viena], contar com 85,5 milhões de habitantes e ultrapassar o maior país da Europa, a Alemanha, no que diz respeito à população.

Se a Turquia conseguir entrar na UE, apesar da resistência de países como a Áustria, a Alemanha ou a França, dominará a orientação política das instituições europeias. Atualmente, já seria a segunda maior influência no Parlamento Europeu e estaria em pé de igualdade com os grandes países no Conselho da UE.

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Apesar de as estruturas do poder deverem, nos próximos anos, adaptar-se progressivamente às regras do Tratado de Lisboa, nada disso mudaria grande coisa para a Turquia. A sua influência deverá até aumentar por causa do grande crescimento da sua população porque o número que lugares no Parlamento ou as novas maiorias no Conselho dependem, antes de mais, do número de habitantes.

Na sua qualidade de grande país, a Turquia poderia não apenas fazer passar as suas decisões como, também, bloquear as que não lhe conviessem. O Tratado de Lisboa prevê que, a partir de 2014, os países que representem, em conjunto, 35% da população da UE constituirão uma minoria de bloqueio. Isto significa que Ancara poderia, por exemplo, a par de Londres, Madrid e Varsóvia, levantar obstáculos a todas as medidas apresentadas por Paris e Berlim. O domínio do eixo franco-germânico seria quebrado.

O que é que a entrada da Turquia na UE mudaria politicamente? A política externa e a segurança virar-se-iam ainda mais para os Estados Unidos, dizem os diplomatas europeus. Em matéria de política comercial, Ancara defenderia ainda mais o comércio livre do que os países que estão há mais tempo na UE. Ancara promoveria, muito provavelmente, uma maior cooperação em matéria de segurança interna, mas seria um travão no que diz respeito aos direitos civis, nomeadamente na proteção de dados informáticos.

Bacaban disse, em Nova Iorque, que a União Europeia ganharia importância na cena internacional com a entrada da Turquia. “O peso da economia europeia no mundo é pequeno e vai continuar a diminuir. Só com o alargamento a UE será capaz de preservar o seu poder e a sua influência."

Uma opinião também defendida por Gerhard Schröder num artigo para o Welt-Online. “Sem a Turquia, a UE mergulhará na mediocridade”, declarou o antigo chanceler social-democrata, lembrando as altas taxas de crescimento daquele país. Só este ano a economia turca crescerá quatro vezes mais do que a da França e duas vezes mais do que a da Alemanha. Schröder afirma que, dentro de 20 anos, a Turquia será a quarta ou quinta economia europeia. Seremos, então, obrigados a passar por ela.

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